Portal de Notícias Administrável desenvolvido por Hotfix

G1 - Saúde

Brasil, Índia e África do Sul foram focos de surgimento de novas variantes do coronavírus até junho, aponta estudo


Pesquisadores brasileiros constataram que, na Europa, uma nova linhagem do coronavírus era achada a cada 300 sequenciamento genéticos do Sars-CoV-2. Já na África e na América do Sul, essa taxa era de uma nova linhagem a cada cerca de 14 a 25 genomas. Uma garota passa de bicicleta por um mural de conscientização sobre o coronavírus em Chennai, na Índia, na segunda-feira (13).

Arun Sankar / AFP

Uma pesquisa liderada por cientistas brasileiros, publicada na semana passada na revista "Viruses", aponta que, do início da pandemia até junho deste ano, o Brasil, a Índia e a África do Sul foram focos de surgimento de novas variantes do coronavírus.

Os pesquisadores chegaram à conclusão com um modelo matemático, que aplicaram sobre 1 milhão de sequenciamentos genéticos do coronavírus feitos em todo o mundo. É por meio do sequenciamento genético que cientistas encontram mutações e novas variantes do Sars-CoV-2.

A partir do modelo, os pesquisadores brasileiros constataram que, na Europa, uma nova linhagem do coronavírus era achada a cada 300 sequenciamentos. Já na África e na América do Sul, essa taxa era de uma nova linhagem a cada cerca de 14 a 25 genomas.

Isso significa que, por aqui e na África, as mutações foram muito mais comuns.

"É como se eu fosse na Alemanha procurar o sobrenome Silva – vou fazer amostragem de milhares de indivíduos e encontrar dois. No Brasil, se eu fizer amostragem com 40 pessoas, vou encontrar 6, 8. As novas linhagens, as mutações em geral, são muito mais abundantes aqui", explica o virologista Fernando Spilki, autor sênior da pesquisa e professor na Universidade Feevale, no Rio Grande do Sul.

O modelo precisou ser aplicado para tornar comparável a quantidade de sequenciamentos genômicos muito diferentes que os países ao redor do mundo fazem. O Reino Unido, por exemplo, é um dos países que mais sequenciam genomas. O Brasil sequencia pouco. No continente africano, de forma geral, o sequenciamento é mínimo.

As maiores taxas de linhagens novas foram achadas justamente no Brasil, na África do Sul e na Índia –países que, no período analisado pelos pesquisadores, deram origem às variantes gama, beta e delta, respectivamente. Hoje, todas são consideradas variantes de preocupação pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

"São situações preocupantes. A coisa mais importante é as pessoas entenderem que há uma relação entre dar espaço para o vírus evoluir, sofrer mutações [e] ser selecionado para linhagens que têm capacidade maior de disseminação, por exemplo. No momento em que você tem esse espaço, você dá chance para o azar de gerar número mais alto de linhagens", esclarece Spilki.

O surgimento de novas variantes ou linhagens do vírus pode fazer com que, por exemplo, ele se torne resistente às vacinas existentes hoje – ou cause uma doença mais grave. Até agora, as vacinas têm sido, de forma geral, eficazes contra as variantes que vêm surgindo – desde que a pessoa receba as duas doses (se for o caso).

00:00 / 19:13

Vigilância genômica e pouco controle

Além de Brasil, África do Sul e Índia, países como Canadá e Japão também tiveram altas taxas de surgimento de variantes –mas é possível que, nesses casos, a seleção de amostras tenha sofrido um viés, porque existe uma tendência de sequenciar amostras de viajantes.

Ou seja: várias linhagens novas eram encontradas, mas elas não surgiam dentro desses países por causa de um descontrole da pandemia – e sim vinham de pessoas de fora.

"Os países têm uma vigilância genômica muito forte em viajantes que chegam do exterior – e por vezes você pode acabar gerando o artefato de uma diversidade maior, mas não é gerada no teu próprio país. É uma diversidade importada", avalia Spilki.

É possível que esse tenha sido, também, o caso do Chile: o país aparece como tendo uma alta taxa de surgimento de variantes – até à frente do Brasil.

"Existe essa possibilidade. A gente não tem o mesmo nível de informação [sobre o caso chileno]. O Chile teve uma série de questões de sistemas de vigilância e de defesa, que devem ter incluído também isso. Porque nos países em que a gente efetivamente encontra grande diversidade – Brasil, África do Sul e Índia – aí sabemos que uma boa parte dela é muito gerada dentro do próprio país", afirma o virologista.

Ele lembra que, no caso do Brasil, não houve bloqueios para entrada de viajantes, por exemplo. Isso facilita o surgimento de variantes.

"Tivemos poucos bloqueios para chegada de novas variantes – também influi na nossa conta. Sempre teve pessoas circulando", diz Spilki.

"Nesses lugares, a gente deu espaço para que acontecesse. O mecanismo para frear isso sem dúvida era o distanciamento social, era o que nós tínhamos. Agora é a vacinação, e também o distanciamento", pontua o pesquisador.

Veja VÍDEOS sobre as vacinas da Covid-19:

G1

Assine o Portal!

Receba as principais notícias em primeira mão assim que elas forem postadas!

Assinar Grátis!

Assine o Portal!

Receba as principais notícias em primeira mão assim que elas forem postadas!

Assinar Grátis!