Presidente começou ano com crise provocada pela invasão dos prédios dos Três Poderes por golpistas. Para dar espaço ao Centrão e obter apoio no Congresso, petista demitiu ministras. O presidente Lula em imagem de dezembro de 2023Fernando Madeira/Rede GazetaEmbora tenha assumido o governo com um discurso de união e diálogo com outros poderes e setores da sociedade, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não escapou de embates e polêmicas no primeiro ano de gestão. Logo na segunda semana de governo, em 8 de janeiro, a invasão aos prédios dos Três Poderes por golpistas em Brasília jogou no colo do presidente uma crise, que envolveu integrantes do governo, aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e a segurança pública do Distrito Federal.Ao longo do ano, o presidente também travou um embate com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, pela redução da Taxa Selic, a taxa básica de juros da economia.Internamente, Lula desagradou parte da militância de esquerda ao abrir espaço no governo para o Centrão, demitindo mulheres do primeiro escalão, como as ex-ministras Ana Moser e Daniela Carneiro, e a ex-presidente da Caixa, Rita Serrano.Lula também foi criticado pela militância nas indicações para o Supremo Tribunal Federal (STF) e na Procuradoria-Geral da República (PGR), por não escolher negros ou mulheres para os cargos. No campo internacional, tentou reposicionar o Brasil na geopolítica e gerou controversas com declarações sobre guerras.Veja a seguir as cinco principais polêmicas do primeiro ano do governo Lula (clique no link para seguir ao conteúdo): Ataques ao Banco CentralDemissões de mulheres do governo8 de janeiro e militaresIndicações à PGR e ao STFDeclarações controversas sobre guerraLula diz que Campos Neto precisa se explicar ao povo e ao Senado sobre taxa de jurosAtaques ao Banco Central Lula criticou diversas vezes ao longo do ano o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, por considerar exagerada a taxa básica de juros, que estava em 13,75% no começo do governo e, atualmente, está em 11,75%.Lula afirmou que Campos Neto não tinha compromisso com o país. O executivo, que não pode ser demitido pelo Planalto porque tem mandato à frente do BC, foi indicado para o cargo por Bolsonaro e apoiou o ex-presidente na eleição."[Campos Neto] tem compromisso com o outro governo, que o indicou. Isso é importante ficar claro. E tem compromisso com aqueles que gostam de juro alto, porque não há outra explicação", disse o petista, que teve uma audiência com Campos Neto em setembro. Lula defende uma taxa mais baixa a fim de baratear o crédito e tentar acelerar investimentos, enquanto o BC calibra a Selic para conter a inflação em um quadro de incertezas no equilíbrio das contas públicas.Lula demite a presidente da Caixa, Rita SerranoDemissões de mulheres do governoLula demitiu duas ministras e a presidente da Caixa Econômica Federal, remanejou um ministro, e criou um ministério na tentativa de atrair mais votos de partidos do Centrão no Congresso Nacional. O grupo de partidos esteve ao lado de Bolsonaro na eleição de 2022.Liderado atualmente pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), o Centrão é conhecido por apoiar os governos em troca de cargos e fatias do orçamento público. Para atender o grupo, Lula fez as seguintes mudanças: Ministério do Turismo: Lula demitiu Daniela Carneiro (União-RJ) e nomeou Celso Sabino (União-PA) Ministério do Esporte: Lula demitiu Ana Moser e nomeou André Fufuca (PP-MA); Ministério dos Portos: Lula retirou Márcio França (PSB) e nomeou Silvio Costa Filho (Republicanos-PE); Ministério do Empreendedorismo: Lula criou a pasta e nomeou Márcio França; Caixa: Lula demitiu Maria Rita Serrano e nomeou Carlos Fernandes. As negociações com União Brasil, Republicanos e PP se arrastaram por meses e resultaram, também, na perda de espaço de mulheres em cargos de alto de escalão. A base de Lula espera que ele aumente a representatividade de mulheres. O presidente começou o governo com 37 ministérios, sendo 11 comandados por mulheres. Ao final do primeiro ano de mandato, são 38 pastas e nove ministras. Quem é Gonçalves Dias, ex-ministro de Lula8 de janeiro e militares Lula passou o ano, em especial o primeiro semestre, tentando se equilibrar com as Forças Armadas em razão do envolvimento de militares com os atos golpistas de 8 de janeiro. Logo após a invasão das sedes dos Três Poderes, o presidente disse que "todos" os militares com participação comprovada nos atos extremistas, independente da patente, seriam punidos. O clima de desconfiança com militares, que não desfizeram acampamentos bolsonaritstas em frente aos quarteis, pesou para Lula demitir, ainda em janeiro, o comandante do Exército, general Júlio César Arruada. O general Tomás Miguel Ribeiro Paiva assumiu o cargo. Os desdobramentos do 8 de janeiro também levaram Lula a demitir pela primeira vez, neste terceiro mandato, um ministro. Em abril, o general Gonçalves Dias foi substituído no Gabinete de Segurança Institucional (GSI) pelo também general Marcos Antonio Amaro. Dias pediu demissão após a divulgação de gravações do circuito interno de segurança do Planalto nas quais o então ministro aparece dentro do edifício durante a invasão de 8 de janeiro. Senado aprova Flavio Dino no STF e Paulo Gonet na PGRIndicações à PGR e ao STF Lula foi pressionado a indicar nomes que aumentassem a diversidade das instituições com a indicação de mulheres e de negros para o STF e para a PGR. Diversas organizações e lideranças cobraram o presidente por meio de declarações, manifestos e até em placas espalhadas pela Índia durante a participação de Lula na cúpula do G20, o que irritou o petista. Os apelos não adiantaram e Lula indicou seu advogado pessoal, Cristiano Zanin, para a vaga da Suprema Corte aberta com a aposentadoria do ministro Ricardo Lewandowski; e o ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB), para a vaga da ministra Rosa Weber. Para a PGR, Lula ignorou a lista tríplice feita pela associação dos procuradores e indicou o subprocurador-geral Paulo Gonet para comandar o Ministério Público Federal. Lula também teve de lidar com a rejeição pelo Senado de uma indicação para a Defensoria Pública da União (DPU). O nome de Igor Roque não alcançou os votos necessários para assumir a chefia do órgão. Nos bastidores, a derrota foi lida como um "recado" de senadores que estariam descontentes com a articulação do governo no Congresso.'Israel parece que quer ocupar a Faixa de Gaza e expulsar os palestinos', diz LulaDeclarações controversas sobre guerra Um dos focos do presidente Lula neste primeiro ano foi a implementação de uma política externa diferente da adotada por Jair Bolsonaro. Lula buscou colocar o Brasil como mediador de conflitos e ator importante no combate às mudanças climáticas. No conflito entre Rússia e Ucrânia, fez falas polêmicas como a de que Zelensky, presidente ucraniano, também é responsável pela guerra. Lula também falou bastante sobre o conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas. O petista tem criticado a resposta do governo israelense ao ataque que o Hamas fez a Israel em 7 de outubro. O presidente brasileiro afirmou que o ato do Hamas foi de terrorismo, mas que Israel também comete atos terroristas ao atacar civis na Faixa de Gaza. Lula também buscou a retomada do alinhamento com governos de esquerda, como o de Nicolás Maduro, na Venezuela, e de Alberto Fernández, ex-presidente da Argentina. Pela Argentina, Lula pediu ao Fundo Monetário Internacional (FMI) que melhorasse as condições de pagamento da dívida argentina. Ele também recebeu Maduro em Brasília, tirando o chefe do governo venezuelano de um isolamento político na América do Sul. Lula afirmou ainda que a Venezuela é alvo de "narrativas", em referência às afirmações de que o país é uma ditadura.