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PIB: Brasil fica atrás de Turquia e Índia, mas cresce mais do que EUA e Europa

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Por G1 em 04/06/2024 às 10:21:56
Números do IBGE mostram que país cresceu mais rápido que EUA e europeus, mas está atrás de alguns emergentes. Inflação não está caindo no Brasil e no mundo no ritmo desejado por economistas

Getty Images via BBC

A economia do Brasil cresceu 0,8% nos primeiros três meses de 2024, na comparação com os últimos meses de 2023, segundo dados divulgados nesta terça-feira (4/6) pelo IBGE.

Os setores que contribuíram para o crescimento da economia foram serviços (alta de 1,4%) e agropecuária (alta de 11,3%). Ao longo do último ano, o Produto Interno Bruto brasileiro cresceu 2,5%.

Os números do IBGE mostram que a economia brasileira está crescendo ligeiramente mais devagar do que no final de 2023, quando havia crescido 2,9%.

Mas o PIB ainda está em um ritmo acima das previsões para o final deste ano — que é em torno de 2%.

Economistas esperam que no próximo trimestre (abril, maio e junho) a economia brasileira sinta os efeitos das graves enchentes no Rio Grande do Sul.

O índice de 0,8% confirma as previsões de lenta retomada da economia brasileira — e o coloca em linha com diversas economias internacionais.

Em comparação com os demais países do G20 (as 20 maiores economias do planeta), o Brasil teve crescimento superior ao dos países europeus e dos Estados Unidos, mas segue atrás de emergentes como Turquia, China e Índia.

A economia mundial está vivendo um momento de crescimentos desiguais, segundo analistas e entidades internacionais — com alguns países se recuperando mais rapidamente do que outros dos choques econômicos desta década.

Depois dos anos da pandemia de covid e o choque inflacionário que se seguiu a ela (dois fenômenos que foram sentidos em praticamente todos os lugares do planeta), os países estão agora em diferentes momentos da sua trajetória de recuperação.

Os números indicam que o Brasil ainda vive um momento de recuperação — mas com previsões de crescimento mais modestas do que as realizadas nos últimos anos.

Em 2020, o PIB brasileiro contraiu 3,3%, e nos anos seguintes houve recuperação em todos os anos: 5% (2021), 3% (2022) e 2,9% (2023).

Para este ano e para 2025, o governo, o mercado e entidades internacionais projetam uma taxa anual de crescimento em torno de 2%.

"Impulsionadas pelo crescimento robusto do emprego, pelos aumentos do salário mínimo e pela diminuição da inflação, espera-se que o consumo das famílias seja o principal motor do crescimento, especialmente em 2024", afirma em um relatório recente a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) sobre suas expectativas em relação ao Brasil.

Crescimento desigual: os líderes

Os três países que registraram as taxas de crescimento mais robustas este ano foram a Turquia, a China e a Índia até agora.

A economia turca cresceu 1,6% no primeiro trimestre deste ano. Mas a Turquia está ainda no meio do seu ciclo de aumento de juros, já que o país enfrenta uma das maiores taxas de inflação do mundo – de 75% por ano.

Uma das surpresas desse ano, segundo o FMI, tem sido a economia da China. Na semana passada, o Fundo revisou a previsão de crescimento para 5% — 0,4% a mais do que o projetado anteriormente.

O país vinha sofrendo desaceleração devido a uma crise no mercado imobiliário doméstico. Recentes medidas do governo contra essa crise ajudaram a reverter as expectativas dos economistas.

Outra economia com crescimento robusto é a Índia — uma tendência que já dura décadas. Com exceção dos anos da pandemia, a economia indiana registra crescimentos anuais acima de 5% há 14 anos.

O governo da Índia divulgou apenas dados anualizados (e não em comparação ao trimestre anterior) deste primeiro trimestre de 2024 que indicam um crescimento de 7,8% nos últimos 12 meses. Economistas dizem que o resultado surpreendeu positivamente e as perspectivas para o país são boas.

Analistas preveem que o crescimento econômico vai se sustentar ao longo do ano e que o primeiro-ministro, Narendra Modi, — favorito para vencer as eleições que estão tendo seus votos contados nesta semana — terá US$ 25 bilhões em superávits para gastar em investimentos governamentais.

Crescimento desigual: os demais

Uma das decepções neste primeiro trimestre do ano foi a economia dos Estados Unidos — que é considerada central para recuperação global.

O crescimento econômico veio abaixo do esperado — com taxa anualizada de 1,6%, contra expectativas de 2,4% de economistas e 4,9% no trimestre anterior.

E a inflação não está caindo no ritmo esperado, o que pode prolongar o período de juros mais altos na economia americana (leia mais sobre os EUA mais abaixo nesta reportagem).

A economia com pior desempenho entre os países do G20 é a do Japão. O país enfrentou recessão técnica no final do ano passado (dois trimestres consecutivos de crescimento negativo) e perdeu o posto de terceira maior economia do mundo para a Alemanha (os primeiros lugares são ocupados por EUA e China, respectivamente).

O baixo gasto dos consumidores tem impedido a economia japonesa de crescer. A desvalorização da moeda nacional também teve um papel importante na queda do Japão em relação à Alemanha.

Outro país com perspectivas de baixo crescimento é a Argentina, que ainda não divulgou os dados referentes ao primeiro trimestre deste ano. O país vem passando por um choque de medidas econômicas promovidas pelo novo presidente, Javier Milei, que promete cortar gastos para segurar a inflação, que é recorde no G20.

A inflação mensal argentina caiu para baixo de 9% no mês passado — após ter atingido 25% em dezembro. A OCDE prevê contração de 3,3% da economia argentina este ano, seguida por crescimento de 2,7% no ano que vem.

Na Europa, as principais economias — Alemanha, Reino Unido e França — registraram crescimento de menos de 1% este trimestre.

No Reino Unido, a principal notícia foi a queda da inflação, o que sinaliza que os juros também podem cair, dando início a uma recuperação mais forte. A inflação anualizada em abril foi de 2,4% — depois de ter atingido 11% em outubro de 2022.

A economia é um dos pontos centrais da eleição britânica, que está marcada para 4 de julho.

Já a economia alemã passou por uma revisão drástica de expectativas no começo do ano — com o governo rebaixando sua previsão de crescimento em 2024 de 1,9% para 0,3%. O ministro da Economia, Robert Hadeck, disse que a economia alemã está atravessando "águas turbulentas" e que a recuperação está sendo bem mais lenta do que o antecipado.

A Europa segue com a inflação em lento declínio, e com crescimento econômico modesto. Analistas esperam que o Banco Central Europeu vá promover na quinta-feira (6/6) o primeiro corte na taxa de juros da zona do euro desde 2019.

Quatro países ainda não divulgaram seus PIBs do primeiro trimestre de 2024: África do Sul, Austrália, Argentina e Rússia.

'Otimismo cauteloso' no mundo

Em um relatório de maio, a OCDE diz que a economia global está vivendo um momento de "otimismo cauteloso".

"Acreditamos que o cenário macroeconômico vai seguir desalinhado [entre os países], com a inflação e as taxas de juros caindo em ritmos diferentes."

A economia global ainda segue tentando se recuperar dos efeitos da pandemia de covid que abalou todas as estruturas econômicas no começo desta década.

Entre 2020 e 2022, diversos governos do mundo — entre eles o do Brasil — investiram recursos públicos para a criação de programas e benefícios de suporte à economia em um momento em que muitas empresas precisaram fechar suas portas por causa da doença.

Nos anos seguintes, houve dois problemas imediatos enfrentados pelos governantes. Primeiro o aumento da dívida pública dos países, por conta dos gastos realizados durante a pandemia.

Segundo, houve uma crise nas cadeias globais de produção. A pandemia provocou interrupções nas cadeias de diversos produtos — causando atrasos e encarecimento na produção de bens.

Esses dois elementos resultaram em uma disparada da inflação em diversos países do mundo. A situação foi pontualmente agravada em fevereiro de 2022 com a eclosão da guerra na Ucrânia, que causou um choque em preços de commodities e energia.

Nos Estados Unidos e na Europa, a inflação atingiu patamares inéditos em mais de 40 anos.

A resposta de quase todas as autoridades monetárias no mundo foi aumentar as taxas básicas de juros das suas economias para conter a inflação. O temor dos governos e bancos centrais é que uma inflação em alta acabaria provocando crises econômicas mais agudas, já que o poder de compra das pessoas cairia— e todos ficariam relativamente mais pobres.

O aumento das taxas de juros encarece o custo do dinheiro nas economias e serve para segurar os aumentos generalizados de preços. Diversas autoridades monetárias promoveram aumentos radicais nas suas taxas de juros em um curto período de tempo. No Brasil, o Comitê de Política Monetária do Banco Central subiu os juros de 4,25% em julho de 2021 para 13,75% em agosto de 2022.

A esperança era que um "choque de juros" seguraria a inflação.

No entanto, a medida que serve para salvar a economia também tem potencial para provocar outros prejuízos. Se os juros ficam em um patamar elevado por muito tempo, há o risco de eles frearem o crescimento econômico — ou até mesmo de provocarem recessões.

Autoridades monetárias precisam sempre calcular os momentos certos para subir e depois baixar os juros.

Economistas indicam que — depois de anos sofrendo com esses desajustes citados acima provocados pela pandemia — a economia global vive em 2024 um momento delicado, em que a inflação parece estar caindo em alguns países — mas não foi completamente derrotada ainda.

Ou seja, o mundo poderia estar muito perto de uma recuperação econômica, com possibilidade de estabilidade e crescimento.

Mas a economia global ainda não chegou lá.

Uma questão central para o mundo: EUA

Este ano, o debate sobre taxas de juros no mundo está em um momento de indefinição. O ano de 2024 começou com pesquisas mostrando um certo otimismo nos mercados — tanto no Brasil como em outros países.

Nos EUA — país que é central na economia global pela força e dinamismo de seu capitalismo e pelo papel central que o dólar ocupa nas transações internacionais — o mercado saiu de uma situação de pessimismo para uma de otimismo quase exagerado, com recordes nas bolsas de valores.

Até o ano passado, muitos previam que, antes que houvesse uma recuperação plena, a economia americana entraria em recessão. Mas no começo deste ano, o humor mudou nos EUA, e a maioria dos analistas já descartava a recessão, antecipando o fim da inflação e a queda dos juros.

Até o momento, nenhum dos dois cenários — o otimista ou o pessimista — parece ter se consolidado. Economistas já não veem uma recessão americana no horizonte. Mas a queda dos juros e a recuperação plena parecem ter ficado para o ano que vem.

Os rumos da economia americana são importantes, porque a taxa de juros do país pode ter influência direta nos juros e na cotação das moedas de outros países.

Quando os juros sobem nos EUA, muitos investidores internacionais tendem a realocar seus recursos de outros países para títulos do governo americano — enfraquecendo moedas estrangeiras e provocando desequilíbrios.

O problema maior da economia dos EUA neste ano é semelhante ao do Brasil: a inflação não está caindo no ritmo desejado, mesmo depois de tanto tempo com juros mais altos. Por isso, os juros estão ainda sendo mantidos em patamares altos — eles subiram de 0,25% em março de 2022 para 5,5% em julho do ano passado e ainda não caíram.

No Brasil, também houve uma reversão de expectativas nas últimas semanas em relação a inflação e juros, com maior pessimismo.

No começo do ano, o Boletim Focus do Banco Central — que reúne projeções dos principais agentes financeiros do Brasil — indicava que o mercado acreditava que o Brasil terminaria o ano com juro básico de 9%. Hoje essa estimativa subiu para 10,25%.

A OCDE alerta para os perigos que ainda existem na recuperação global.

"Apesar de uma perspectiva de risco mais equilibrada, ainda há preocupações substanciais. As elevadas tensões geopolíticas, especialmente no Oriente Médio, poderão perturbar os mercados de energia e financeiros, provocando um aumento da inflação e uma diminuição do crescimento."

"As expectativas de que a inflação continuará caindo de forma constante também podem se provar equivocadas."

Fonte: G1

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