O ex-deputado e presidente nacional do PTB foi preso na manhã desta sexta-feira (13). Octávio Guedes: Jefferson passou de político moderado a radical que abriga fascistas
"Sou eu o autor da Lei do Desarmamento no Brasil", gabava-se Roberto Jefferson no horário eleitoral gratuito de 1997.
Naquele ano, o já experiente deputado federal candidato à reeleição tinha sido relator do projeto que ganharia apelido pomposo e que criou o Sistema Nacional de Armas, estabelecendo critérios de registro e porte.
Quem diria que, 20 anos depois, esse mesmo Roberto Jefferson se exibiria armado em redes sociais e convocaria apoiadores a fazerem o mesmo, acabaria preso nesta sexta-feira 13.
Ele é suspeito de participar de uma organização criminosa para atentar contra a democracia.
A transmutação do ex-deputado é só uma de tantas deste ex-aliado do ex-presidente Lula que se tornou bolsonarista e que se associou ao lema "bandido bom é bandido morto" — mesmo sendo, ele próprio, réu confesso no caso do Mensalão.
O presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, em evento em Curitiba em 26/02/2021
Eduardo Matysiak/Futura Press/Estadão Conteúdo
De lá para cá, guinou a carreira política ao extremismo. Presidente nacional do PTB, partido trabalhista com herança varguista, passou a abrigar na sigla membros neointegralistas: os fascistas brasileiros.
"O partido se dissociou praticamente por completo de suas origens e se tornou um partido fisiológico", analisa Odilon Caldeira Neto, autor do livro "O fascismo em camisas verdes: do integralismo ao neointegralismo".
O professor de História Contemporânea pela Universidade de Juiz de Fora estuda a história dos seguidores de Plínio Salgado, pai da Ação Integralista Brasileira (AIB), e sua evolução no tempo.
Odilon afirma que Roberto Jefferson aproveitou o espólio político de Levy Fidelix, ex-presidente do PRTB, sigla que abrigava células extremistas até a morte do cacique, em abril deste ano.
Jefferson, ele diz, passou a acenar a esses "grupelhos de veia anunciadamente golpista que giram em torno do bolsonarismo”. Depois, os próprios neointegralistas passaram a rondar o ex-deputado.
"A Frente Integralista Brasileira é a principal organização hoje, que tem algumas figuras com trânsito político mais efetivo. Entre eles, Paulo Fernando da Costa, que foi assessor especial da ministra Damares Alves (Direitos Humanos). É um neointegralista que atua muito próximo de lideranças políticas. Essa ida dele ao PTB significou uma via expressa do neointegralismo com o PTB", resume.
Minutos antes de ser preso, Roberto Jefferson foi às redes sociais e se despediu com uma saudação praticamente idêntica ao do integralismo:
"Deus. Pátria. Família. Vida. Liberdade."
Juntas e exatamente na mesma ordem, as três primeiras palavras formam o lema da Ação Integralista Brasileira (AIB).
Quem é Roberto Jefferson
Advogado de Petrópolis, na Região Serrana do Rio, ele se tornou célebre na década de 1980 no programa "O Povo na TV", da extinta TVS — atual SBT.
O programa opunha Roberto Jefferson e Wagner Montes. Os dois acabariam deputados: o primeiro defendendo os direitos humanos; o segundo, o enfrentamento duro à criminalidade.
A primeira eleição à Câmara dos Deputados veio em 1983. Depois, foi reeleito outras seis vezes consecutivas.
Em meio ao mandato, no início dos anos 2000, passou por uma cirurgia bariátrica e perdeu 36 quilos. Foi à TV explicar o novo visual e a operação, cujas complicações fizeram os médicos chegarem a desenganá-lo.
Só em 2005 deixou o Congresso, ao ser cassado depois de delatar o esquema do Mensalão, do qual se beneficiou financeiramente.
Jefferson detalhara o esquema de compra de apoio político em favor de Lula, comandado por José Dirceu, então ministro da Casa Civil. O seu PTV fora um dos comprados.
Em 2012, mesmo ano em que descobriu um câncer no pâncreas, foi condenado a 7 anos e 14 dias por corrupção passiva e lavagem de dinheiro na ação penal julgada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
A pena, atenuada pelo relator do caso, Joaquim Barbosa, começou a ser cumprida em 2014. No ano seguinte, foi liberado ao regime aberto graças a uma decisão da corte que hoje é o principal alvo de seus ataques: o Supremo Tribunal Federal (STF).
O despacho é assinado pelo inimigo número um dos bolsonaristas: ministro Luís Roberto Barroso.