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Bidú Sayão, 120 anos: ela encantou com ópera e foi encantada no samba

Por Agência Brasil em 11/05/2022 às 07:34:15

Cantora Bidú Sayão conversa com Villa-Lobos. - Acervo Museu Villa-Lobos/Ibram

Ao admirar, pelo rádio, as músicas do tenor sueco Jussi Björling, o biógrafo verificou que ele cantava acompanhado de uma mulher. Ao pesquisar, verificou que era uma brasileira. “Eu fiquei tão deslumbrado e emocionado, que passei a seguir o que ela fazia”.


Uma das observações principais de sua biografia é que o mundo era dela, mas Bidú fazia questão de espalhar o sentimento de brasilidade. “Ela, nos Estados Unidos e na Europa, era muito associada ao Brasil. A cantora fazia uma propaganda do país onde ia. Ela tinha muito orgulho de ser brasileira”. No entanto, diferente de hoje em dia, as notícias demoravam a chegar.

“Voz pequena”

Cantora Bidú Sayão.ofereceu dedicatória da Villa-Lobos, "gênio da música e glória de nossa terra" - Acervo Museu Villa-Lobos/Ibram

Conforme revela o escritor Denis Daniel, a “voz pequena” da cantora brasileira fez sucesso estrondoso por onde passava. Os críticos estrangeiros dobraram-se ao talento. No Brasil, os principais compositores, como Heitor Villa Lobos, a reconheceram como uma cantora muito diferente.

“O que há de mais surpreendente era a trajetória dela. A persistência dela em obter sucesso mundial. E assim aconteceu: se transformou em primeira-dama da ópera”, avalia o biógrafo.

Ele considera que a cantora possuía uma inteligência musical aguçada e era extremamente sentimental e sensível. “Tinha um talento incomum para aprender e a usar as técnicas musicais que conhecia. Pra compensar a sua voz pequena, era primeiro uma atriz e depois cantora”.


“A mais importante”

Para o pesquisador Marcos Menescal, da direção artística do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, Bidú foi a cantora brasileira mais importante da história. “A gente pode afirmar que ela foi a mais importante cantora no Brasil pela carreira que ela desenvolveu, uma carreira que nenhum outro cantor nacional teve”. Ele também enfatiza que a voz delicada, como um rouxinol, marcou a carreira da artista.

A cantora lírica Neti Szpilman, que é também soprano (timbre mais agudo) e tem carreira como solista de espetáculos eruditos no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, concorda que Bidú Sayão deixou um legado imensurável, mesmo se tratando de uma arte que poucos têm acesso. Sonhava em chegar perto daquela cantora, o que ocorreu não no teatro, mas no sambódromo em 1995.

Neti presenciou com profunda admiração o desfile de Bidú Sayão, a cantora que é para ela, ao lado da norte-americana Maria Callas, principal inspiração na arte. “Ela estava muito concentrada no barracão com todos nós. Conversou conosco, mas estava bem atenta realmente na expectativa de uma apresentação. Fiquei muito impressionada com isso”. Ela recorda que Heitor Villa-Lobos dedicou para Bidú a obra Bachianas Brasileiras nº 5,


A cantora considera injustificadas as críticas que ela recebeu por viver fora do país. Para a cantora, era para Bidú ter sido mais enaltecida por tudo o que ela conseguiu. “Ela tinha uma ‘voz pequena’ e rara naquela época de vozes poderosas”.


Ainda mais levando-se em conta, como entende a artista, que o canto lírico traz as exigências parecidas com as de um “atleta”, com preparação extrema de corpo e voz. Bidú, como avalia Neti, era minuciosa e metódica para chegar a todas as paredes de um teatro e invadir os locais. “É muito desgastante para quem canta”.


Atualmente, Neti se prepara para um concerto camerístico sobre o músico Cartola, no dia 13 (em celebração à Abolição da Escravatura), no Teatro Municipal. “Em um paralelo, recordo que Cartola também se sentiu abandonado e desprestigiado. Com 54 anos, ele voltou à música. Nossos artistas precisam ser reconhecidos”.

Cada vez que sobe ao palco, a cantora diz que busca mostrar que o erudito não precisa estar longe. Pode estar ao lado, ecoando pelos corredores e paredes. “É difícil explicar o que é uma voz pequena”, diz o pesquisador Marcos Menescal. Nem é preciso explicar. Bidú, para os pesquisadores, artistas e público, continua gigante.

Ouça aqui interpretações de Bidú Sayão


Ouça reportagem na Radioagência Nacional


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Retrato da intérprete lírica Bidú Sayão com dedicatória à Rádio Mec - Tomaz Silva/Agência Brasil

Fonte: Agência Brasil - Geral

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