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O mito do abismo entre as gerações

Por G1 em 26/06/2022 às 09:46:16
“Clichês e estereótipos alimentam batalhas, como se vivêssemos uma guerra cultural, e nos distraem do que realmente importa”, afirma professor O senso comum sempre aponta para um abismo irreconciliável entre as gerações – e está errado. Esta é a tese do professor de políticas públicas Bobby Duffy, que tive o prazer de conhecer on-line, em palestra que deu ao Instituto de Gerontologia do Departamento de Saúde Global e Medicina Social do King´s College London, onde trabalha. Autor de “O mito geracional: por que quando você nasceu importa menos do que imagina” (“The Generation myth – why when you´re born matters less than you think”), lançado em 2021, é enfático: “Clichês e estereótipos sobre o abismo entre gerações alimentam batalhas, como se vivêssemos uma guerra cultural, e nos distraem do que realmente importa”.

Bobby Duffy, professor de políticas públicas do King´s College London

Divulgação

Cita a questão das mudanças climáticas, na qual a população madura é apontada como o principal vilão da situação: “as gerações mais velhas são as que mais tendem a se engajar em boicotes por motivos sociais. A General Social Survey (ligada à Universidade de Chicago) pesquisou, entre 1993 e 2018, o que os americanos pensavam sobre o assunto. Diante da pergunta sobre se concordavam que o aumento da temperatura no planeta é muito ou extremamente perigoso, o posicionamento dos baby boomers foi subindo ao longo dos anos, encostando no patamar da Geração X”.

"Houve uma migração dos idosos para as cidades menores, enquanto os jovens ocuparam os grandes centros. Essa separação é combustível para desentendimentos e interpretações equivocadas".

Só para lembrar: baby boomers são os nascidos depois da 2ª. Guerra Mundial, até o começo da década de 1960; a Geração X compreende os que nasceram entre o princípio dos anos de 1960 até 1979; em seguida vêm os Millenials (1980-1995); a partir de 1996, a Geração Z. “Sempre há um gap entre as gerações. No meio da década de 1980, 60% dos nascidos antes de 1945 achavam que as mulheres deviam ficar em casa, e somente 30% dos baby boomers concordavam com isso. Em 2021, 45% dos baby boomers afirmavam ter orgulho do império britânico, sentimento compartilhado por apenas 20% da Geração Z”, discorreu.

No entanto, Duffy chamou a atenção para problemas sociais que são profundos e nada têm a ver com um conflito de gerações. Por exemplo, a dificuldade de os mais jovens conseguirem conquistar o sonho da casa própria. “Comparando o volume de patrimônio de baby boomers e da Geração X, na faixa dos 45 anos os primeiros têm o dobro de riqueza dos outros. Mas não se trata de uma guerra na qual os mais velhos são culpados. Na verdade, houve uma escalada de preços dos imóveis e do sinal para a compra, um descolamento enorme entre o custo do imóvel e o rendimento médio”, explicou.

Na sua opinião, o século XXI assistiu a uma segregação etária que é prejudicial para todos: “houve uma migração dos idosos para as cidades menores, enquanto os jovens ocuparam os grandes centros. A "tensão" entre gerações não é apenas natural, mas essencial e benéfica. Faz parte do metabolismo demográfico que impede a estagnação. Essa separação é combustível para desentendimentos e interpretações equivocadas. Temos que focar no fim da desigualdade intergeracional e proteger a conexão entre todas as faixa etárias”.

Fonte: G1

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