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Gaby Amarantos se eleva sobre as águas amazônicas que banham o batidão tropical do álbum 'Purakê'


Artista paraense se firma como compositora em disco produzido por Jaloo com 'feats' da cantora com Alcione, Dona Onete, Elza Soares, Liniker, Luedji Luna, Ney Matogrosso e Urias. Capa do álbum 'Purakê', de Gaby Amarantos

Rodolfo Magalhães com arte de Luan Zumbi

Resenha de álbum

Título: Purakê

Artista: Gaby Amarantos

Edição: Amarantos Eleva / Deck

Cotação: * * * *

? Vislumbrado desde 2015, o segundo álbum solo de Gaby Amarantos emerge das águas amazônicas, após seis anos, elevando a cantora, compositora e atriz paraense na cena nacional. Purakê é álbum de afirmação que, sob prisma autoral, se revela até mais importante na discografia da artista do que o aclamado antecessor Treme (2012).

Lançado há nove anos, no embalo da (re)descoberta dos sons do norte pelo Brasil etnocentrista do eixo Rio de Janeiro – São Paulo, Treme exportou o tecnobrega para todo o território nacional, rendeu um megahit para a cantora – Ex mai love (Veloso Dias, 2012), ainda hoje o maior sucesso de Gaby – e passou para a história fonográfica como mais um acerto de Carlos Eduardo Miranda (1962 – 2018), diretor artístico do disco efetivamente gravado com produção musical de Félix Robatto e com a colaboração de Waldo Squash.

Leia entrevista da artista ao G1: Gaby Amarantos quer apresentar o novo som amazônico com segundo álbum

Disponível em edição digital deste a noite de quinta-feira, 2 de setembro, o álbum Purakê evidencia o progresso de Gaby Amarantos como compositora. Se em Treme a artista assinava somente duas músicas (Gemendo e Faz o T), em Purakê Gaby é a autora de todas as 13 músicas do disco, a sós ou com parceiros, sustentando o bom nível da safra autoral ao longo do álbum formatado com produção musical de Jaloo, artista paraense surgido no embalo da onda nortista que se ergueu nos rios do Brasil a partir de Treme.

Munido dessa safra autoral, Gaby Amarantos apresenta álbum tão interessante quanto o anterior, mas diferente, ainda que com naturais conexões. A presença da matriarca musical paraense Dona Onete é uma das interseções entre Treme e Purakê.

A autora e convidada da música Mestiça (2012), no álbum anterior, reaparece ao lado de Alcione e Elza Soares, compondo o trio de deusas-mulheres que se reúne com Gaby em Última lágrima (Gaby Amarantos, Renato Rosas, Dona Onete), canção sobre sofrência que exalta o poder feminino, seja na récita de Dona Onete, seja nos cantos de Alcione, Elza e Gaby. Jaloo divide a produção da emblemática faixa de abertura do álbum Purakê com o mineiro Baka e com Rafael Ramos.

Gaby Amarantos canta o tecnobrega 'Arreda' com Leona Vingativa e Viviane Batidão

Rodolfo Magalhães / Divulgação

Outro ponto de contato entre Treme e Purakê é naturalmente o tecnobrega, gênero musical que adquire aura afropunk em Arreda (Gaby Amarantos, Félix Robatto, Arthur Espíndola), faixa que junta Gaby, Leona Vingativa e Viviane Batidão em gravação produzida por Jaloo com Waldo Squash.

Sem soar tão tecno, o brega também dá o tom da canção Amor fake (Gaby Amarantos, Félix Robatto, Arthur Espíndola e Renato Rosas) e de Selfie (Gaby Amarantos, Arthur Espíndola e Lucas Gouvêa), música que Gaby corretamente associa à voz do cantor Reginaldo Rossi (1944 – 2013), um dos reis do gênero, ao contextualizar o repertório de Purakê.

Álbum mergulhado em águas amazônicas, mas tingindo os sons do norte com os tons da contemporaneidade pop, Purakê vai além do tecnobrega ao reverberar o batidão tropical em músicas ensolaradas como a fluente Embraza (Gaby Amarantos e Jaloo) e como Iniciação (Gaby Amarantos, Jaloo e Lucas Estrela), flash de “uma paraense que resolveu curtir o carnaval na Bahia”, como caracteriza a artista.

Em tom mais denso, mas sem pesar a mão no melodrama, a cantora dá voz às baladas Amor pra recordar (Gaby Amarantos, Jaloo e Tonny Brasil), Sangrando (Gaby Amarantos) e Tchau (Gaby Amarantos, Arthur Espíndola e Lucas Gouvêa), gravadas por Gaby em duetos com Liniker, com Potyguara Bardo (persona drag queen do ator, cantor e compositor potiguar José Aquilino Araújo) e com Jaloo, respectivamente.

Gaby Amarantos e Jaloo, produtor musical do álbum 'Purakê'

Divulgação

Outro dueto acontece em Opará (Gaby Amarantos, Jaloo, Lucas Estrela), música que junta as vozes de Gaby e Luedji Luna, reiterando a força feminina entranhada em Purakê em faixas como Vênus em escorpião (Gaby Amarantos, Jaloo e Lucas Estrela, 2020), brega punk gravado por Gaby com Ney Matogrosso e Urias, previamente lançado em single em novembro do ano passado, como primeira amostra do álbum.

Mesmo ausente do disco, a presença de Fafá de Belém – estrela radiante que propagou sons do norte do Brasil ao surgir em meados da década de 1970 – é sentida quando a dona de Purakê canta Rio (Gaby Amarantos), música banhada pela referência recorrente das águas dos rios nas ruas do Pará.

Faixa produzida por Jaloo com Félix Robatto, a cumbia Rolha (Gaby Amarantos, Arthur Espíndola, Félix Robatto) reafirma o norte como eixo central do álbum Purakê ao incursionar por esse ritmo colombiano tão presente na música miscigenada do Pará.

Produto azeitado resultante da mistura pop tropical que embala o norte do Brasil, o álbum Purakê faz Gaby Amarantos se elevar sobre as águas amazônicas, triturando referências do passado no presente, com olhos abertos para o futuro.

G1

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