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Na região dos pampas, o ressurgimento da tradição do vinho

Por Agência Brasil em 17/12/2022 às 14:32:12

Venda de vinhos tintos, brancos, rosés e espumantes da Guatambu teve um salto durante a pandemia - TV Brasil

Apesar de estar despontando no cenário nacional agora, a região foi há mais de um século, destaque na área. A primeira vinícola registrada no país, a J. Marimon & Filhos, ficava na Campanha Gaúcha, no município de Candiota. Há registros de 1923 na imprensa local de que vinhos receberam medalha de ouro em competições. Hoje a vinícola não existe mais, ficaram as ruínas para relembrar um passado de glória que volta a ser vislumbrado.

A poucos quilômetros de onde funcionava a J. Marimon & Filhos, hoje uma outra vinícola se destaca: a Batalha Vinhas & Vinhos. O nome remete ao local onde foi travada a Batalha do Seival, em 1836, onde os revoltosos da Revolução Farroupilha venceram o exército imperial. A propriedade, de 29 hectares, produz vinhos premiados e também com selo de IP. Giovani Peres, sócio da vinícola, explica que a empresa também tem uma parceria com produtores de uvas. “O produtor traz a uva e nós produzimos o vinho, isso é uma característica muito forte na Campanha Gaúcha”, contou.

A vinícola também abriu as portas para o turismo. Além de contar a história do local, os visitantes podem degustar os vinhos e um autêntico churrasco gaúcho. Essa estratégia tem sido uma das alternativas para fomentar a difusão da qualidade dos vinhos da região por vários produtores que possuem o selo de IP.

A vinícola Campos de Cima, em Itaqui, também optou por esse caminho. Na propriedade, o turista pode tanto fazer a visita guiada com uma degustação dos vinhos no final do passeio, quanto hospedar-se na Wine House. Segundo o presidente da Associação, que também é diretor comercial da empresa, Pedro Miguel Lopes Albergaria Candelária, o turismo é algo que tem crescido bastante entre os produtores da região.

Aposta arriscada

A Campos de Cima é um dos casos clássicos da região, em que a propriedade tradicionalmente focava a produção em outras atividades, como na pecuária. A fazenda, com mais de 150 anos, também produzia arroz. Mas em 2000, o casal Hortência Ravache Auyb e José Silva Ayub decidiram diversificar e optaram pelo vinho, com a ajuda da Embrapa e do Sebrae.

Foi uma aposta arriscada, mas que deu certo. “As pessoas falavam: " vocês são loucos de começar a produzir vinho aqui, essa região não produz uva", mas nós pesquisamos bastante, não foi um trabalho que a gente começou do nada”, relembra Hortência. Hoje, José Ayub sente orgulho de ter criado algo inovador. “Isso é um embrião de coisas novas, depois que a gente implantou a área vinífera, já tem gente plantando noz pecan e oliveiras”, contou.

Em Sant’ana do Livramento, uma outra vinícola também surgiu de uma propriedade familiar. As terras onde hoje está a Pueblo Pampeiro vieram dos bisavós, descendentes de alemães, do engenheiro agrônomo Marcos Obrakat. “Eles trabalhavam com uma família europeia produzindo laticínios, leite, pecuária, frutas e o vinho laranja, muito tradicional na região. Com o passar do tempo, eles ficaram velhinhos, foram pra cidade e aí deixaram essa propriedade arrendada por 40 anos. Há 10 anos, nós chegamos aqui, e estava num estado bem degradado e a gente sentiu aquela energia, o chamado de voltar para cá”, disse.

Junto com a esposa, a uruguaia Cintia Lee, eles chamaram outro casal uruguaio, o enólogo Javier Michelena e a profissional de Comércio Exterior Liliana Silva, para criar uma vinícola de vinhos diferentes. “A gente é contramão, porque produzimos um vinho pouco conhecido no Brasil, um vinho fortificado. E essa é a concepção do negócio, fazer coisas diferentes”, explicou Marcos.

Um dos produtos mais premiados é o Indómito, um vinho licoroso feito a partir de uvas Tannat. Recebeu 2 premiações no Brasil e 3 internacionais - no Chile, na Argentina e em Portugal. Javier Michelena se emociona ao falar do produto e relembrar tudo o que passou até chegar ao padrão que a vinícola alcançou: “é como um filho”.

Ciência e experiência

Para que a região chegasse a esse nível de qualidade, a ciência e a experiência deram as mãos. Diversas vinícolas contam com laboratórios para análise desde a uva antes de ser colhida até a fase de envasamento. Mas é a Universidade Federal do Pampa (Unipampa) que ficou com a responsabilidade de avaliar os vinhos que recebem o selo de IP da Campanha Gaúcha.

“Essa análise sensorial é feita na Universidade e os vinhos que têm qualidade garantida são indicados para receber o selo, já vinhos que não tem o caráter mínimo de aceitação do produto, eles são retirados, são vinhos que podem ser comercializados, mas sem o selo da indicação de procedência”, explicou o professor de enologia, Marcos Gabbardo. Ele é um dos responsáveis pelo vinhedo demonstrativo, onde há 72 variedades de uva, que auxilia nos estudos de melhores diversidades para a região.

Vinhos recebem o selo de IP da Campanha Gaúcha - TV Brasil

A Unipampa também oferece o único curso de bacharelado em Enologia do país, atraindo estudantes de todo o Brasil e também de países vizinhos, como o Uruguai, onde esse tipo de curso é limitado à área técnica. A reitora do campus de Dom Pedrito, Nádia Bucco, disse que foi um desafio criar a faculdade de Enologia numa época em que a cadeia produtiva da uva e do vinho estava apenas começando na região. “Hoje a demanda no mercado é maior do que nós podemos entregar de profissionais”.

Para o professor Gabbardo é recompensante o trabalho de transmitir para os mais jovens as experiências e incentivá-los a trabalhar com a uva na região. “A minha escolha de vida é trabalhar o vinho brasileiro, é desenvolver esse produto. E eu sou o que sou graças ao vinho, graças à produção de uva aqui no Brasil. Então, levar isso para outras gerações é muito importante”, concluiu.

Fonte: Agência Brasil - Geral

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