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Mais de 2,5 milhões de mulheres não trabalharam para cuidar de parentes ou das tarefas domésticas, diz IBGE

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Por G1 em 06/12/2023 às 10:22:33
Mulheres são dois em cada três dos 10,8 milhões de jovens brasileiros que não estudavam e nem estavam ocupados em 2022. Situação geral é pior para pretos e pardos, de renda mais baixa. Mãe e bebê

William Fortunato/Pexels

Quase 7 milhões de mulheres faziam parte do grupo de jovens que não estudavam e nem estavam ocupados em 2022. Elas representam nada menos que 63,4% dos mais de 10,8 milhões de brasileiros entre 15 e 29 anos que estavam nesta situação no ano passado.

Os dados são da Síntese de Indicadores Sociais 2023, estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgado nesta quarta-feira (6).

A pesquisa faz uma análise das condições de vida da população brasileira em 2023, incluindo mercado de trabalho, indicadores de rendimentos, condições de moradia e educação. Um dos cortes traça o perfil da população conhecida popularmente como "nem-nem" (nem estuda, nem trabalha).

O instituto, porém, prefere a sigla "Neno" para definir os jovens que "não estudam e nem estão ocupados". E, apesar de uma queda de 14,3% em relação ao ano anterior, consequência de um reaquecimento do mercado de trabalho, o padrão demográfico dos Neno continua sem alteração. A ampla maioria é feminina, com 4,7 milhões de mulheres pretas ou pardas e 2,1 milhões de brancas.

E o principal motivo que as tirou do mercado de trabalho foi o cuidado. Mais de 2 milhões disseram que não tomavam providências para conseguir trabalho porque precisavam cuidar dos afazeres domésticos ou tomar conta de parentes.

Outras 553 mil mulheres que procuravam trabalho também mencionaram o trabalho doméstico e cuidado com familiares como impeditivos. Ao todo, portanto, mais de 2,5 milhões de mulheres.

A título de comparação, o contingente de homens que saíram do mercado pelo mesmo motivo e não procuravam emprego foi de 80 mil. O principal motivo alegado por eles foram os problemas de saúde, com 420 mil.

Entre aqueles que queriam trabalhar, apenas 17 mil mencionaram questões domésticas. A alegação mais recorrente, para 356 mil homens, é de que não havia trabalho na localidade. Entre as mulheres, 484 mil mulheres disseram o mesmo.

Há essa diferenciação porque os jovens Neno podem estar fora da força de trabalho ou desocupados. No caso, quem procura emprego é considerado desocupado. Em 2022, 65,9% estavam fora da força de trabalho e 34,1% desocupados.

Por diferentes motivos — como estudo, falta de trabalho disponível ou cuidado — 4,7 milhões de jovens não procuraram trabalho e nem gostariam de trabalhar, segundo o IBGE.

Veja os números de gênero e raça:

Entre os jovens de 15 a 29 anos do país, 10,8 milhões não estudavam nem estavam ocupados em 2022;

Um em cada cinco jovens brasileiros desta faixa etária (22,3%) faziam parte do grupo dos Neno;

Do total, 6,9 milhões são mulheres e 3,9 milhões são homens;

Também do total, 7,4 milhões são pretos ou pardos (67,6%) e 3,4 milhões são brancos (31,5%);

No corte de raça, o maior grupo são as mulheres pretas ou pardas, com 4,7 milhões (43,3%);

Já o menor grupo são os homens brancos, com 1,2 milhão (11,4%);

Mulheres brancas são 2,1 milhões (20,1%) e homens pretos ou pardos, 2,6 milhões (24,3%);

Negros e mulheres têm rendimentos piores

A pesquisa do IBGE evidencia também dados clássicos da desigualdade no mercado de trabalho.

No quesito renda, por exemplo, os profissionais brancos continuam a ganhar 61,4% mais por hora trabalhada que pretos e pardos. A métrica vale para todos os níveis de instrução, mas a média geral é de R$ 20 por hora para brancos e de R$ 12,40 para negros.

Além disso, a série histórica do IBGE mostra que essa distorção de raça pouco se mexeu ao longo dos últimos 10 anos. Em 2012, a diferença média de rendimentos de brancos era 69,8% maior que de negros.

A diferença é ainda maior no nível mais alto de instrução, o ensino superior. A diferença chega a 37,6%, sendo R$ 35,30 para brancos versus R$ 25,7 para pretos e pardos.

Veja abaixo as demais, sempre com rendimento de brancos sendo o maior:

Total: R$ 20 x R$ 12,40

Sem instrução ou fundamental incompleto: R$ 10,90 x R$ 8,40

Fundamental completo: R$ 11,60 x R$ 9,30

Médio completo: R$ 14,10 x R$ 11,10

Superior completo: R$ 35,30 x R$ 25,70

O IBGE mostra, por fim, que o país prossegue com forte diferenciação na distribuição de atividades de trabalho, que impactam nos salários. Enquanto brancos são maioria em setores como Informação e Serviços Financeiros, pretos e pardos são mais numerosos em atividades como Serviços Domésticos (66,4%), Construção (65,1%) e Agropecuária (62%).

No recorte por gênero, a média de rendimentos de homens é 14,9% maior que de mulheres. No ensino superior, a relação sobe para 43,2% — diferença ainda mais agressiva que o corte interracial. Além disso, o nível de ocupação dos homens alcançou 63,3% e o das mulheres, 46,3%.

Quanto à qualidade de emprego, os pretos e pardos ficam bem atrás dos brancos. As mulheres do grupo compõem o maior percentual de informalidade no mercado de trabalho, com 46,8% das profissionais. Os homens negros não ficam tão atrás, com 46,6%.

Em comparação, mulheres brancas na informalidade são 34,5%. Os homens brancos, novamente no menor contingente, são 33,3% informais.

Informais são empregados e trabalhadores domésticos sem carteira assinada, trabalhadores por conta própria e empregadores que não contribuem para a previdência social, além de trabalhadores familiares auxiliares. Em 2022, 40,9% dos trabalhadores do país estavam em ocupações informais.

Mas há também os dados de subutilização, que são pessoas desocupadas, subocupadas por insuficiência de horas ou na força de trabalho potencial — aqui se encaixam os Neno. E para a taxa composta de subutilização, os índices mais elevados são para as mulheres e para as pessoas de cor ou raça preta ou parda.

A taxa de subutilização para homens era de 16,8%, enquanto chegava a 25,9% para as mulheres. Entre os brancos, eram 16,2%. Para negros, 24,6%.

Fonte: G1

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