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Vale ouvir o último álbum de Carlos Lyra, 'Além da bossa'

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Por G1 em 17/12/2023 às 12:02:26
Foto: Reprodução internet

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No primeiro disco de músicas inéditas em 25 anos, lançado em 2019, o artista apresentou tango, samba de breque, seresta e parcerias póstumas com Castro Alves e Machado de Assis. Capa do álbum 'Além da bossa', de Carlos Lyra

Divulgação

? MEMÓRIA – Carlos Lyra (11 de maio de 1933 – 16 de dezembro de 2023) está imortalizado como um dos principais compositores da bossa nova – e do Brasil.

Nada apaga esse fato honroso. Contudo, a partir dos anos 1970, o cantor, compositor e músico carioca procurou ir além da bossa nova sem se dissociar do movimento que revolucionou a música do Brasil em 1958 e que o consagrou como compositor já em 1959, quando João Gilberto (1931 – 2019) incluiu nada menos do que três músicas de Lyra no primeiro álbum do gênio, Chega de saudade (1959).

É nesse contexto que o magnífico álbum Além da bossa – lançado pelo artista em março de 2019 em edição independente da MCK Produções Artísticas – precisa ser entendido.

Além da bossa foi o primeiro álbum solo autoral de Lyra com músicas inéditas em 25 anos. O último no gênero, Carioca de algema, saíra em 1994.

Com sonoridade refinada, o álbum Além da bossa resultou fiel ao estilo de Lyra, extrapolando o universo da bossa nova sem desfazer os laços eternos do artista com aquele universo moderno.

O disco foi viabilizado com produção executiva de Magda Botafogo e orquestrado pelo produtor musical Alex Moreira com sofisticados arranjos de nomes como Dori Caymmi, Marcos Valle, Jaques Morelenbaum, Antonio Adolfo e o próprio Lyra.

Algumas músicas eram realmente inéditas. Outras tinham sido gravadas por outros intérpretes e/ou parceiros, mas eram inéditas na voz de Lyra. A única composição já registrada em disco pelo artista era Aonde andou você, composta em 1956 e apresentada cinco anos depois pelo autor no segundo álbum, Carlos Lyra (gravado em 1960 e lançado em 1961).

O álbum Além da bossa trouxe lampejos do majestoso melodista dos anos 1950 e 1960 em músicas como Quando ela fala, composta por Lyra em 1999 a partir de poema de Machado de Assis (1839 – 1908) e arranjada com lirismo pelo violoncelista Jaques Morelenbaum.

O arranjador também entendeu o espírito de outra pérola fina do repertório, a seresteira Pelo bem da vida, parceria de Lyra com Paulo César Pinheiro, composta em 1979 e gravada no ano seguinte pelos cantores Nelson Gonçalves (1919 – 1998) e Lucinha Araújo.

Com versos do mesmo Pinheiro, Lyra compôs em 1999 Tango suburbano, alocado ao fim do álbum como reiteração do título e do conceito desse disco em que Lyra caiu até em samba de breque, Achados e perdidos (Samba da breca), tema de 1973 orquestrado com leveza por Jessé Sadoc, trompetista também arregimentado para a mesma função na gravação do samba Na batucada (2010).

Por mais que expanda o leque rítmico do disco com tango, bolero e samba de breque, compondo postumamente até com o poeta Castro Alves (1847 – 1871), autor dos versos de Duas flores (1997), Carlos Lyra soou bossa nova quando arranjou, com Marcos Valle, a música-título Além da bossa – composta em 2012 com Daltony Nóbrega – e o samba Até o fim, parceria de Lyra com Valle criada em 2006 e lançada no ano seguinte em disco do cantor Emílio Santiago (1946 – 2013).

A rigor, Além da bossa é disco que colheu repertório antigo até então preterido por Lyra. Nem por isso deixou de apresentar pérolas tiradas de baús nem tão antigos.

E era Copacabana – música feita em 2005 com Joyce Moreno, lançada pela parceira em 2006 e reapresentada por Lyra com cordas orquestradas por Dori Caymmi – e Belle époque (Carlos Lyra e Ronaldo Bastos, 2008) eram joias de alto quilate.

Gravado por Lyra em 2018 na cidade natal do Rio de Janeiro (RJ), quando o artista tinha 85 anos, Além da bossa é disco em que os arranjos contribuíram para evidenciar o brilho das músicas de compositor que se notabilizou pela beleza das melodias.

Com pouco alcance, o álbum Além da bossa repercutiu bem menos do que deveria, merecendo ser ouvido, sobretudo neste momento em que a saudade faz um samba com a partida de Carlos Lyra aos 90 anos.

Fonte: G1

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