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'Sertanejo desbocado': como músicas com palavrões estão ganhando cada vez mais espaço

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Por G1 em 23/02/2024 às 05:06:19
'Última Noite', 'Meio Termo' e outras têm palavrões e viraram tendência. Compositor diz que existe cuidado para que o uso dessas palavras nunca tenha o sentido de ofensa. Sertanejo desbocado: palavrões ganham espaço em músicas do ritmo

A música "Sorte da porra", cantada por Felipe Araújo, abriu de vez a porta para uma fase do "sertanejo desbocado". Se antes os palavrões estavam aparecendo discretamente nas letras, agora foi parar até no título, mostrando uma nova tendência - que já era bem conhecida entre artistas do rock e do funk.

Nos últimos meses, faixas com expressões coloquiais sem censura têm figurado nos rankings das plataformas digitais. Algumas delas:

Em "Meio Termo", Luan Santana canta que a pessoa não quer um amor morno e diz que "ou ama pra porra ou porra nenhuma",

Em "Última Noite", Felipe Araújo e Luan Santana juntam as vozes pra dizer que "hoje vai ter gente que falou que não ia ficar comigo, ficando comigo e ligando o foda-se";

Emplacando três na lista do sertanejo desbocado, Luan Santana participa da música de Clayton & Romário e o trio canta que "é foda saber que a gente é só um ex-casal agora" na faixa "Namorando ou Não";

Também reincidente na lista de músicas com palavrão, Felipe Araújo desencanou de vez e não economizou nem para o título. Em "Sorte da Porra", ele canta que a parceira do sujeito tem uma "sorte da porra" que a boca dele não voa;

Em "Torce o Olho", Gusttavo Lima convida Hugo e Guilherme pra dizer que "não foi bom te ver chorar, foi foda demais";

Embora não seja tão recente, "Liberdade Provisória", de Henrique e Juliano, foi uma das precursoras dessa fase. Lá no finalzinho de 2019, a dupla cantava que o sujeito da música "tava solteiro porra nenhuma".

Luan Santana, Clayton & Romário, Henrique & Juliano e Felipe Araújo são alguns dos artistas que incluiram palavrões em suas músicas

Caio Mayer- Divulgação / Randes Filho – Divulgação / Reprodução-Instagram

'Sempre que der par evitar, acho melhor'

Em entrevista ao vivo no g1 Ouviu, o podcast e videocast de música do g1, Felipe Araújo comentou que não escolheu gravar as duas músicas ("Última Noite" e "Sorte da Porra") por causa do palavrão, e, sim, porque gostou delas.

"Mas o palavrão estava ali no meio. A gente poderia até ter mudado a palavra, principalmente na 'Última Noite', mas não achei nada que fizesse tanto sentido quando a palavra em questão", disse o cantor.

Felipe Araújo fala sobre músicas com palavrão: "Sempre que der pra evitar é melhor"

G1 Ouviu entrevista Felipe Araújo; veja íntegra da entrevista

Felipe acredita na tendência do sertanejo desbocado. "Tem muitas músicas saindo com alguns palavrões." Mas apesar de ter duas faixas encabeçando a lista, cita que "sempre que der pra evitar, é melhor". "A gente tem que ter essa responsabilidade também, porque são muitas crianças que ouvem nossas músicas. São crianças que as vezes crescem ouvindo a gente, se inspirando na gente."

O que pensam os compositores

Matheus Costa, Lucas Ing, Matheus Di Pádua, Felipe Viana e Eliabe Quexi, compositores de "Última Noite"

Reprodução/Instagram

Compositor das duas músicas do "sertanejo desbocado" com Felipe Araújo como intérprete, Matheus Costa acredita que o uso do palavrão nas músicas "é algo que cada vez vai ficar um pouco mais normal".

"Acaba que são palavras que estão no cotidiano, que as pessoas falam no dia a dia. Dentro de casa, na rua, entre amigos."

Dono de hits como "Na hora da raiva", "Edinalva" e "Seu perfil", Matheus diz que existe um cuidado para que o uso dessas palavras nunca tenha o sentido de ofensa. "É sempre bom ser colocado da forma certa, para não ficar uma coisa que agride ou que seja prejudicial a outra pessoa."

Matheus atribui a era digital, que atinge um púbico mais jovem, como o fator que impulsionou a tendência de uma era mais desbocada no sertanejo. "Com a era digital, essas músicas começaram a performar muito bem. Então acho que foi um gatilho para se usar cada vez mais."

Versão 'light' para as rádios

'Atrasadinha', música de Felipe Araújo, ganhou uma versão "sem o vinho" para as rádios

Ricardo Nasi / G1

Apesar de palavrões estarem no cotidiano, quando vão para veículos como o rádio e a TV, as músicas ganham versões editadas. E não são apenas os palavrões que saem.

Felipe Araújo já precisou editar a música "Atrasadinha", trocando a palavra "vinho" por "jantarzinho". O verso original que diz "vamos pular a parte que eu peço aquele vinho do bom" se transformou em "vamos pular a parte que eu peço um jantarzinho bom". "Última Noite" também já ganhou uma versão soft, trocando o "foda-se" por "hoje".

Nas plataformas de streaming, como o Spotify, não há mudança nas palavras, mas a música vem acompanhada de uma etiqueta que identifica que a faixa contem "conteúdo explícito" (por isso, a letra "E" ao lado do nome de algumas canções).

Matheus conta que, às vezes, os compositores já deixam uma alternativa pronta. Ele atenta para o cuidado na hora da composição, porque dependendo da métrica dos versos, pode ser difícil achar uma palavra em substituição. "Se essa palavra cai numa rima, muitas vezes é difícil fazer essa troca por outra que fique bom."

A história das músicas

Luan Santana participa da música "Última Noite" de Felipe Araújo

Reprodução/Instagram

Embora seja parte do novo álbum de Felipe Araújo, "Última Noite" foi composta na chácara de Luan Santana e deveria fazer parte do álbum "Luan City 2.0", gravado em março de 2023. Na época, Matheus Costa, Lucas Ing, Matheus Di Pádua, Felipe Viana e Eliabe Quexin se reuniram para fazer um intensivo de composições para o disco do cantor.

"Luan gostou bastante de 'Última Noite', só que na reta final, eles decidiram que a 'Meio Termo' se encaixava mais no projeto." Assim, o grupo ofereceu a música para Felipe Araújo. Eles, então, explicaram que Luan tinha gostado da faixa e, como Felipe já queria fazer uma parceria com Luan, o convite foi feito e aceito. "Saiu do Luan e voltou pro Luan", diz Matheus, ao brincar sobre a faixa.

Já a "Sorte da Porra", assinada por ele com Lucas Ing, Mateus Candotti e Thales Lessa, nasceu de uma ideia já pensada por um dos compositores. "O [Lucas] Ing queria falar sobre uma pessoa que queria achar alguém parecido, semelhante a ele. Porque ele já tava cansado de ser enganado e tudo. Então, ele queria alguém que fosse trouxa também."

Mas será que o enredo nasceu com base na história de alguém? "Então... muitas vezes a gente vem baseado em uma história de alguém que tá sofrendo por isso, que tá passando por isso, né? Nesse caso, eu não sei se o Lucas já tava com essas questões sentimentais dele. Mas agora ele tá muito bem, tá namorando."

Fonte: G1

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