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'NinguĂ©m vai separar nosso povo, nem mesmo vocĂȘ, Lula', diz ministro de Israel

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Por G1 em 23/02/2024 às 13:10:32
Ministro de Relações Exteriores de Israel, Israel Katz fez nova postagem em rede social mirando o presidente brasileiro. Lula comparou ação de Israel em Gaza ao Holocausto. Lula durante entrevista coletiva no domingo (17) em Adis Abeba, na Etiópia. Fala que comparou a morte de palestinos ao Holocausto foi repudiada pelo governo de Israel

Ricardo Stuckert/PR

O ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, voltou a citar o presidente Lula (PT) pela comparação feita pelo brasileiro entre a ofensiva israelense em Gaza e o Holocausto —o extermínio de judeus na Segunda Guerra Mundial.

Em postagem na rede social X (ex-Twitter), ele escreveu: "Ninguém vai separar nosso povo —nem mesmo você, Lula"

Katz foi quem declarou Lula "persona non grata" na última segunda-feira. Depois disso, tem feito várias postagens críticas direcionadas ao presidente do Brasil.

Antes, ele já havia:

Publicado um vídeo ao lado de uma brasileira cujo namorado foi assassinado pelo Hamas

Chamado a comparação feita por Lula de "promíscua" e "delirante"

Levado o embaixador brasileiro em Tel Aviv, Frederico Meyer, ao Museu do Holocausto para manifestar sua insatisfação com o presidente do Brasil.

Membros do governo de Lula já avaliaram que Katz está exagerando em sua reação.

No início da semana, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, afirmou que a postura israelense após declarações do presidente Lula é uma "vergonhosa página da diplomacia de Israel". Em declarações divulgadas pelo Itamaraty, dadas a duas agências de notícias internacionais (Reuters e Bloomberg), Mauro Vieira repudiou as falas das autoridades israelenses.

"Uma chancelaria dirigir-se dessa forma a um chefe de Estado, de um país amigo, o presidente Lula, é algo insólito e revoltante. Uma chancelaria recorrer sistematicamente à distorção de declarações e a mentiras é ofensivo e grave. É uma vergonhosa página da história da diplomacia de Israel, com recurso à linguagem chula e irresponsável", afirmou Vieira.

Um diplomata que pediu para não ser identificado afirmou que o tom do chanceler israelense é de "briga de bar". Segundo o blog da Daniela Lima, as mensagens de Katz mostram desespero. "Eles esperavam notas e notas de repúdio à fala do Lula. Não tiveram. O que houve foi um porta-voz dos Estados Unidos, questionado numa coletiva, dizer que discorda do Brasil. Em diplomacia isso é igual a nada", afirmou formulador da política externa de Lula.

De acordo com o blog da Andréia Sadi, o governo brasileiro avalia expulsão de embaixador de Israel após atrito diplomático. Fontes do Itamaraty disseram que o movimento não é desejável, mas que pode ocorrer se houver escalada por parte dos israelenses.

Pedido de desculpas

Na terça-feira, Katz voltou a cobrar um pedido de desculpas de Lula após o presidente do Brasil ter comparado a ação de Israel em Gaza, na Palestina, ao Holocausto —o extermínio de judeus na Segunda Guerra Mundial.

Com um post em português, o ministro das Relações Exteriores israelense, Israel Katz, classificou a comparação feita por Lula de "promíscua e delirante", e reafirmou que Lula "continuará sendo persona non grata em Israel" até que se desculpe.

"Presidente do Brasil @LulaOficial, milhões de judeus em todo o mundo estão à espera do seu pedido de desculpas. Como ousa comparar Israel a Hitler? É necessário lembrar ao senhor o que Hitler fez? Levou milhões de pessoas para guetos, roubou suas propriedades, as usou como trabalhadores forçados e depois, com brutalidade sem fim, começou a assassiná-las sistematicamente. Primeiro com tiros, depois com gás. Uma indústria de extermínio de judeus, de forma ordeira e cruel", diz um trecho da mensagem.

Em outro trecho, o ministro defende a ação em Gaza:

"Israel embarcou numa guerra defensiva contra os novos nazistas que assassinaram qualquer judeu que viam pela frente. Não importava para eles se eram idosos, bebês, deficientes. Eles assassinaram uma garota em uma cadeira de rodas. Eles sequestraram bebês. Se não tivéssemos um exército, eles teriam assassinado mais dezenas de milhares".

Por fim, conclui:

Que vergonha. Sua comparação é promíscua, delirante. Vergonha para o Brasil e um cuspe no rosto dos judeus brasileiros. Ainda não é tarde para aprender História e pedir desculpas. Até então - continuará sendo persona non grata em Israel!"

O ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Paulo Pimenta (PT), respondeu às declarações: ele disse nesta terça-feira (20) que o chanceler de Israel, Israel Katz, espalha informação falsa sobre declarações de Lula.

Segundo Pimenta, Lula não "fez críticas ao povo judeu, tampouco negou o holocausto" na declaração que causou a crise entre os dois países.

O governo Lula não pedirá desculpas, segundo a colunista Daniela Lima, e voltará a reprovar publicamente a ação de Israel em Gaza.

Lula é declarado 'persona non grata' em Israel

A medida ocorre um dia depois de o próprio Katz ter declarado Lula "persona non grata", em pronunciamento em hebraico ao lado do embaixador brasileiro em Israel, Frederico Meyer.

Mais de 24 mil pessoas já morreram no conflito entre Israel e Hamas, que começou no início de outubro de 2023, após o grupo terrorista ter invadido o território israelense.

O termo "persona non grata" (alguém que não é bem-vindo, em tradução livre) é um instrumento jurídico utilizado nas relações internacionais para indicar que um representante oficial estrangeiro não é mais bem-vindo. O termo foi descrito no artigo 9 da Convenção de Viena sobre relações diplomáticas.

Ministro israelense diz que palavras de Lula 'são uma vergonha e uma desgraça'

No final da semana, Lula classificou como "genocídio" e "chacina" a resposta de Israel na Faixa de Gaza aos ataques terroristas promovidos pelo Hamas no início de outubro. Ele comparou a ação israelense ao extermínio de milhões de judeus pelos nazistas chefiados por Adolf Hitler no século passado (veja vídeo abaixo).

"O que está acontecendo na Faixa de Gaza e com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu: quando o Hitler resolveu matar os judeus", disse Lula.

O petista fez a afirmação após ser questionado sobre a decisão de alguns países de suspender repasses financeiros à Agência da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA, na sigla em inglês) — entenda mais abaixo o que está acontecendo com a agência.

Lula deu as declarações durante entrevista em Adis Abeba, na Etiópia, onde participou nos últimos dias da 37ÂȘ Cúpula da União Africana e de reuniões bilaterais com chefes de Estado do continente.

Lula compara guerra em Gaza com ações de Hitler

Embaixador convocado

No domingo (18), Netanyahu disse que decidiu convocar o embaixador do Brasil para uma reunião sobre a fala de Lula.

Em uma rede social, o premiê declarou que a afirmação banaliza o Holocausto – genocídio promovido na Segunda Guerra Mundial contra cerca de seis milhões de judeus.

"Comparar Israel ao Holocausto nazista e a Hitler é ultrapassar uma linha vermelha. Israel luta por sua defesa e garantia do seu futuro até a vitória completa", declarou Netanyahu.

Sede da UNRWA na Faixa de Gaza. Entidade também está presente na Cisjordânia, Síria, Líbano e Jordânia

Picture alliance/dpa/APA/ZUMA Press Wire

O que está acontecendo com a UNRWA?

Alguns funcionários da Agência das Nações Unidas de assistência aos palestinos (UNRWA) foram acusados no final de janeiro de estarem envolvidos no ataque do Hamas, em Israel, em 7 de outubro de 2023. O porta-voz do governo israelense, Eylon Levy, afirmou que o lugar é uma fachada para o grupo terrorista.

"A agência foi comprometida de três maneiras: contratando terroristas em massa, deixando suas instalações serem usadas para atividades militares do Hamas e se apoiando no Hamas para a distribuição da ajuda na Faixa de Gaza", afirmou.

À época, a agência afirmou que os funcionários foram demitidos enquanto uma investigação é feita. Segundo o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, um relatório preliminar da equipe de auditoria será apresentando até o final de março, com entrega de um relatório definitivo até o final de abril, que será público.

ONU escolhe ex-ministra da França para investigar agência

Após a acusação, dez dos principais países financiadores da agência suspenderam temporariamente suas doações à entidade: Alemanha, EUA, Austrália, Japão, Itália, Holanda, Canadá, Finlândia, Suíça e Reino Unido.

Um porta-voz da agência também disse que se o financiamento não for retomado, a UNRWA conseguirá prestar seus serviços em toda a região, incluindo Gaza, até fevereiro.

A UNRWA, criada em 1949 após a primeira guerra árabe-israelense, oferece serviços que incluem educação, cuidados primários de saúde e ajuda humanitária aos palestinos em Gaza, Cisjordânia, Jordânia, Síria e Líbano.
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