Copom decidiu reduzir o ritmo de corte de juros para 0,25 ponto na semana passada, para 10,5% ao ano, contrariando indicação dada em março. Diretores novos, indicados por Lula, votaram por um corte maior e geraram um 'racha' no Copom. Entretanto, foram voto vencido. O diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou nesta quarta-feira (15) que votou a favor de um corte maior na taxa básica de juros na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), de 0,5 ponto percentual, para 10,25% ao ano, porque isso já havia sido indicado anteriormente pela instituição, em março.
A decisão, entretanto, foi distinta. A taxa recuou menos, 0,25 ponto percentual, para 10,5% ao ano. Isso acontece porque houve um "racha" no Copom, sendo que a maior parte da diretoria do BC, incluindo diretores antigos e o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, votaram por uma redução menor -- mostrando mais preocupação com as perspectivas para a inflação.
Os quatro novos diretores indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, crítico contumaz de juros elevados, incluindo Galípolo -- que é cotado para assumir a Presidência do Banco Central em janeiro de 2025 --, queriam uma redução maior na taxa básica da economia. Mas foram voto vencido.
Nesta quarta-feira, Galípolo afirmou que a mudança do chamado "guidance", ou seja, na indicação dada anteriormente pelo Banco Central de que os juros seriam reduzidos em 0,5 ponto percentual em maio, demandaria uma "mudança substancial" do cenário para a inflação, o que, em sua visão, não aconteceu.
"Nos comunicados anteriores, tinha uma questão sobre alteração substancial do cenário. Essa lógica sobre o que é substancial pode ter um peso distinto para diferentes diretores", afirmou Galípolo em Nova York (Estados Unidos), durante seminário internacional promovido pelos jornais "Valor Econômico" e "O Globo".
Credibilidade
A divisão na diretoria do BC, com os quatro indicados pelo presidente Lula votando por uma redução maior nos juros, gerou tensão no mercado. A bolsa de valores caiu, enquanto o dólar e os juros futuros avançaram no dia seguinte.
O receio é que, a partir de 2025, com maioria no Copom pelo diretores indicados pelo presidente Lula, possa haver leniência no controle da inflação.
No seminário nos Estados Unidos, Gabriel Galípolo afirmou que se preocupou muito em dar um "pivô, uma "meia volta" na indicação que tinha dado anteriormente, de um corte maior nos juros, pois isso poderia ter impacto em sua credibilidade como diretor do BC.
"Me preocupava muito qual era a função reação que eu poderia passar ao dar um pivô, uma meia volta, em cima de toda comunicação que eu vinha fazendo, e coerência com o que eu vinha fazendo. Se eu quero com o tempo ganhar credibilidade, eu preciso ter coerência entre a minha fala e as minhas ações", declarou o diretor do Banco Central.
Segundo ele, há um "peso distinto" para diferentes diretores em abandonar o "guidance", a indicação feita anteriormente sobre o ritmo de corte dos juros.
"Os diretores que estão há mais tempo conquistaram essa credibilidade no mercado. Quando ganha credibilidade, ganha graus de liberdade, até para não entregar o 'guidance' e não gerar dúvida no mercado sobre função de reação", avaliou Galípolo.
Por fim, o diretor do BC reafirmou o compromisso com as metas de inflação definidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para os próximos anos -- que são as diretrizes para as decisões do Copom sobre a taxa de juros.
"É importante recolocar, meta não se discute, se persegue e se atende. Poder Executivo, poder democraticamente eleito, através de seu representante no CMN, determina a meta e cabe aos diretores [do BC] colocar a taxa de juros em patamar restritivo suficiente, e pelo tempo necessário, para que a inflação convirja para a meta. Essa é a função do Copom, e não há qualquer tipo de tergiversação sobre o tema", concluiu Galípolo.