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Foram aprovados 663 produtos, alta de 19% em relação ao ano anterior. Do total, 30 são inéditos, somando as duas categorias. Imagem de uma pulverização aérea de agrotóxico.Eric Brehm / UnsplashO Brasil bateu recorde de liberação de agrotóxicos e defensivos biológicos em 2024, depois de uma queda em 2023, apontam dados do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).A alta coincide com o início da vigência da nova lei dos agrotóxicos, sancionada pelo governo Lula no final de 2023, que tem como objetivo acelerar a análise para a liberação de produtos.O ministério faz esse levantamento desde 2000. Em 2024, foram aprovados 663 produtos, uma alta de 19% na comparação com o ano anterior (555). A queda em 2023 foi a primeira na série histórica em 7 anos.A maioria dos defensivos aprovados são agrotóxicos genéricos (541), ou seja, "cópias" de princípios ativos inéditos — que podem ser feitas quando caem as patentes — ou produtos finais baseados em ingredientes já existentes no mercado. O número segue a linha dos anos passados, em que os genéricos também são prevalentes.Entre os demais, há 15 produtos químicos novos. Saiba mais ao fim da reportagem.O montante conta também com 106 defensivos biológicos, sendo 15 deles inéditos. Estes produtos são considerados de baixo risco. Eles podem ser feitos a partir de componentes como hormônios, insetos, vírus, entre outros. Desde dezembro de 2024, os biológicos deixaram de ser considerados agrotóxicos, devido à lei dos bioinsumos, sancionada em dezembro. Atualmente, os agrotóxicos são definidos como "produtos e agentes de processos físicos ou químicos isolados ou em mistura com biológicos".Os bioinsumos, por sua vez, passam a ser classificados como "produto, processo ou tecnologia de origem vegetal, animal ou microbiana, incluído o oriundo de processo biotecnológico, ou estruturalmente similar e funcionalmente idêntico ao de origem natural" utilizados na cadeia agropecuária.Apesar das novas definições, o ministério continua a incluir os dois tipos de defensivos no balanço do total de liberações a cada ano.A liberação dos produtos é uma decisão dos três órgãos: Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e Ministério da Agricultura.O que causou o recordeAo g1, o Ministério da Agricultura disse que o aumento no número de liberações segue a tendência das quantidades de registros protocolados nos três órgãos competentes e que foi dada prioridade aos registros de produtos de baixo risco. Sem especificar em números, o comunicado informou que "uma parte significativa das liberações ocorreu em cumprimento a decisões judiciais".Apesar do número elevado de aprovações, elas não representam o total de defensivos comercializados. Uma pesquisa do Ibama de 2023 mostrou que, dos 3.314 produtos aptos ao campo naquele ano, 62% não foram movimentados, ou seja, não tiveram fabricação, importação, exportação e vendas internas.A nova lei dos agrotóxicos foi aprovada com vetos pelo presidente Lula. Antes da aprovação, uma das demandas da bancada ruralista era de que os processos de concessão e reavaliação de registros desses produtos seguissem prazos mais curtos. A partir de 2024, o processo de registro de produtos novos passou a ter que ser concluído em até 24 meses, enquanto os agrotóxicos com fórmulas idênticas a outros já aprovados seguem o prazo de 60 dias.Até então, o setor argumentava que um produto podia levar até 7 anos para obter o registro para uso e comercialização no Brasil.Para ambientalistas, a mudança foi um retrocesso. Uma das críticas foi a retirada das menções a "características teratogênicas" (que causa a defeitos físicos no embrião em desenvolvimento), "carcinogênicas" (que possa causar câncer) ou distúrbios hormonais e a citação de que a proibição somente se dá quando ocorre "risco inaceitável", o que enfraqueceria as regras.Leia também:Registros de contaminação por agrotóxicos aumentaram quase 10 vezes no 1º semestre, segundo entidadeDrone dispara ovos de vespas para abacate ficar protegido e receber menos agrotóxicosOs números do Ministério da Agricultura mostram também que:dos defensivos liberados 464 são para o uso dos agricultores, ou seja, são produtos que já estão nas lojas – são também os chamados "produtos formulados". Eles são divididos em dois grupos: os formulados químicos, que são agrotóxicos (358), e os biológicos (106). Os outros 199 foram para uso da indústria – estes são conhecidos como "produtos técnicos", matérias-primas utilizadas na fabricação dos pesticidas. Este número inclui a pré-mistura (1), usada para agilizar os processos industriais.Como funciona uma fábrica de insetosProdutos químicos inéditosDos 15 pesticidas químicos inéditos, 12 foram liberados para o uso dos agricultores. Os outros 3 são voltados para as fabricantes de agrotóxicos.Entre os que podem ir direto para o campo, dois se destacam: o Orandis Opti e o Maravis Opti, ambos considerados "altamente tóxicos para a saúde humana" pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).??O Orandis Opti é a base de Clorotalonil e Oxatiapiprolim. O produto é um fungicida, usado em pequenas culturas, como alho e cebola. ??O Miravis Opti é feito com Clorotalonil e Pidiflumetofem. Este fungicida é usado em várias culturas, incluindo as grandes produções de soja, milho, algodão e trigo. A bula dos dois produtos alerta que são fatais quando inalados e podem provocar lesões oculares graves e reações alérgicas na pele, quando em contato com esses órgãos.Eles também são considerados "muito perigosos ao meio ambiente", pela classificação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Na prescrição, é informado que são produtos altamente persistentes no meio ambiente e tóxicos para organismos aquáticos, como algas, microcrustáceos e peixes.Os dois possuem o Clorotalonil em sua fórmula. Se trata de um fungicida antigo e com uma toxicidade considerável. Ele teve uma alta no consumo nos últimos 5 anos por causa de uma nova recomendação para controle de ferrugem asiática na soja, a principal doença que acomete a cultura.Além desses, outros 5 produtos químicos inéditos que podem ser utilizados no campo receberam a classificação de "muito perigoso ao meio ambiente"; 2 foram considerados "perigosos ao meio ambiente" e outros 2 "pouco perigosos".Veja também:Microvespa em drone protege abacate e diminui uso de agrotóxicos