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Emanuelle Araújo faz 'noite de reverências' a Jards Macalé no Rio

Por G1 em 06/08/2022 às 13:22:15
Cantora divide palco com o artista ao estrear show de álbum com músicas do compositor. Emanuelle Araújo e Jards Macalé em momento afetuoso no palco do J Club, no Rio de Janeiro, na estreia do show da cantora

Robson Nogueira / Divulgação J Club

Resenha de show

Título: Quero viver sem grilo – Uma viagem a Jards Macalé

Artista: Emanuelle Araújo – com participação de Jards Macalé

Local: J Club (Rio de Janeiro, RJ)

Data: 4 de agosto de 2022

Cotação: ? ? ?

? Emanuelle Araújo tinha 14 anos, ainda morava em Salvador (BA) e integrava o grupo de teatro experimental Solta Minha Orelha quando se deparou pela primeira vez com as estranhezas do cancioneiro de Jards Macalé. Foi quando, a pedido do diretor da companhia teatral, a atriz iniciante ouviu a canção Soluços (1969), possível trilha sonora de performance idealizada pelo grupo.

Atualmente a atriz e cantora baiana tem 46 anos, mora na cidade do Rio de Janeiro (RJ) e ainda continua atravessada pela obra de Macalé, para citar termo dito por Emanuelle no palco da casa carioca J Club, onde a artista fez na noite de quinta-feira, 4 de agosto, a primeira apresentação do show baseado no disco Quero viver sem grilo – Uma viagem a Jards Macalé (2020), segundo álbum solo da cantora projetada nacionalmente em 1999 como vocalista da Banda Eva.

Ao contar a história de como conheceu a música de Macalé, a cantora deu voz a Soluços – após a leitura de versos escritos em 1968 pela poeta Ana Cristina César (1952 – 1983) – em bom momento da apresentação.

Quatro anos após a gravação do disco em estúdio do Brooklyn (Nova York, EUA) em novembro de 2018, e dois anos após a edição do álbum, Emanuelle Araújo protagonizou “noite de reverências” a Macalé, convidado da apresentação feita dentro da eclética programação da série Bossa Nova in concert, do J Club.

A passagem do tempo realçou o sentido dos versos “Cada dia no meu canto / Tenho um outro encantamento / Cada coisa no meu canto / Tem um outro fundamento / E cada dia na minha cara / Um pouco de cada tempo” cantados pela artista ao abrir (muito bem) o show com a lembrança de Tio Barnabé (1977), música de Macalé em parceria com Marlui Miranda e Xico Chaves, composta e gravada por Macalé e Marlui para a trilha sonora do programa infantil Sítio do pica-pau amarelo (TV Globo, 1977).

Emanuelle Araújo canta as músicas 'Quero viver sem grilo' e 'Vapor barato' com Jards Macalé na estreia de show no Rio de Janeiro

Robson Nogueira / Divulgação J Club

Dividindo o palco com power trio formado pelo guitarrista Pedro Sá (o grande guitar hero da música brasileira do século XXI), o baixista Pedro Dantas e o baterista Daniel Conceição, a cantora encarou o desafio de dar voz a músicas já imortalizadas em vozes como as de Gal Costa, Maria Bethânia e a do próprio Macalé.

Na viagem por essa obra ainda inquietante, Emanuelle procurou se ambientar em Hotel das estrelas (Jards Macalé e Duda Machado, 1970), engoliu Farinha do desprezo (Jards Macalé e José Carlos Capinan, 1972) em seco sem tempero e tentou realçar os signos de Boneca semiótica (Jards Macalé, Duda Machado e Ricardo Chacal, 1974) antes de apresentar parcerias de Macalé com o poeta baiano José Carlos Capinan.

Meu amor me agarra & geme & treme & chora & mata (1972), Movimento dos barcos (1972) – instante de beleza gerada por momento mais sereno de show pautado pelas distorções e o peso do poderoso trio – e 78 rotações (1972) foram escalas de viagem arriscada porque cantar Macalé é correr riscos o tempo todo.

Em show que ganhou (im)pulso na metade final, Emanuelle Araújo acertou ao ir além do disco e cantar You don't know me (Caetano Veloso, 1972), música de Transa (1972), cultuado álbum de banda em que, sob a direção musical de Macalé, Caetano Veloso costurou referências do rock e da Bahia, estado natal de Emanuelle. As referências baianas foram citadas inclusive no toque da guitarra de Pedro Sá.

A abordagem de You don't know me (1972) foi ponto luminoso de show que atingiu o clímax quando, convidado pela cantora após a interpretação de Anjo exterminado (Jards Macalé e Waly Salomão, 1972), Macalé subiu ao palco do J Club.

Sozinho ao violão, Macalé interpretou Sem essa (Jards Macalé e Duda Machado, 1969) com a habitual propriedade e, totalmente entrosado com o toque da banda, fez apresentação assombrosa de Trevas (2019) antes de cantar Mal secreto (Jards Macalé e Waly Salomão, 1971) no fim do set do artista.

O ápice do show foi quando Emanuelle se juntou a Macalé no palco para cantar Quero viver sem grilo – pérola dos anos 1970 revelada em 2016 com a edição de registro caseiro da música em disco de raridades de Macalé – com a inebriante batida do indie rock do trio.

No bis, uma anticlimática Vapor barato (Jards Macalé e Waly Salomão, 1971) encerrou a noite de reverências a Jards Macalé na voz de Emanuelle Araújo. Entre escalas mais ou menos felizes, a viagem foi boa.

Emanuelle Araújo faz show com roteiro de 15 músicas e participação de Jards Macalé na casa carioca J Club

Robson Nogueira / Divulgação J Club

? Eis o roteiro seguido em 4 de agosto de 2022 por Emanuelle Araújo – com a adesão de Jards Macalé – na estreia do show Quero viver sem grilo – Uma viagem a Jards Macalé na casa J Club, na cidade do Rio de Janeiro (RJ):

1. Tio Barnabé (Jards Macalé, Marlui Miranda e Xico Chaves, 1977)

2. Hotel das estrelas (Jards Macalé e Duda Machado, 1970)

3. Farinha do desprezo (Jards Macalé e José Carlos Capinan, 1972)

4. Boneca semiótica (Jards Macalé, Duda Machado e Ricardo Chacal, 1974)

5. Meu amor me agarra & geme & treme & chora & mata (Jards Macalé e Waly Salomão, 1972)

6. Movimento dos barcos (Jards Macalé e Waly Salomão, 1972)

7. 78 rotações (Jards Macalé e Waly Salomão, 1972)

8. You don't know me (Caetano Veloso, 1972)

9. Soluços (Jards Macalé, 1969)

10. Anjo exterminado (Jards Macalé e Waly Salomão, 1972)

11. Sem essa (Jards Macalé e Duda Machado, 1969) – Jards Macalé

12. Trevas (Jards Macalé, 2019) – Jards Macalé

13. Mal secreto (Jards Macalé e Waly Salomão, 1971) – Jards Macalé

14. Quero viver sem grilo (Jards Macalé, anos 1970 / 2019) – com Jards Macalé

Bis:

15. Vapor barato (Jards Macalé e Waly Salomão, 1971) – com Jards Macalé

Fonte: G1

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