Banner 1 728x90

Leila Maria acentua em cena o tom político do álbum afro 'Ubuntu' ao ir além de Djavan no roteiro do show

Por G1 em 28/08/2022 às 13:50:16
Cantora também dá voz a músicas de Jorge Ben Jor, Caetano Veloso, Milton Nascimento, Fernando Brant, Gilberto Gil e Cazuza que se afinam com o espírito ativista do disco lançado em 29 de abril. Leila Maria no palco do Teatro Rival Refit na estreia carioca do no show 'Ubuntu'

Marcelo Castello Branco / Divulgação

Resenha de show

Título: Ubuntu – Leila Maria canta Djavan

Artista: Leila Maria

Local: Teatro Rival Refit (Rio de Janeiro, RJ)

Data: 26 de agosto de 2022

Cotação: ? ? ? ? ?

? Quando Leila Maria cantou Zumbi (Jorge Ben Jor, 1974) no palco do Teatro Rival Refit, na estreia carioca do show Ubuntu, pareceu que o líder Zumbi do Palmares (1655 – 1695) havia chegado para libertar o povo negro do racismo e da opressão ainda vigentes no Brasil de 2022.

Pareceu que, assim como o público, a octogenária casa de shows estremecera, tamanho o impacto da interpretação da cantora carioca e do arranjo orquestrado pelo baterista e diretor musical do show, Guilherme Kastrup, com o acento africano do álbum Ubuntu (2022), representado em cena pelas presenças dos músicos Zola Star (nascido no Congo) e François Muleka (descendente de congoleses).

No álbum Ubuntu (título já garantido na lista dos melhores discos de 2022), Leila Maria canta Djavan com sotaque africano já explicitado pelo compositor alagoano em músicas como Soweto (Djavan, 1987), mas até então dissociado de canções como Meu bem querer (Djavan, 1980), balada encorpada por Leila com o canto do coral Vocal Kuimba, ouvido em off pelo público que encheu o Teatro Rival Refit na noite de sexta-feira, 26 de agosto.

No show, Leila Maria realçou o tom político do disco – concebido para apresentar o cancioneiro de Djavan em 2022 sob a perspectiva histórica da diáspora africana – ao extrapolar o repertório do compositor em roteiro turbinado com vigorosas abordagens de músicas como Caxangá (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1977), Milagres do povo (Caetano Veloso, 1985) e Um trem para as estrelas (Gilberto Gil e Cazuza, 1987), além da já mencionada Zumbi.

Leila Maria canta 'Zumbi', de Jorge Ben Jor, com interpretação que fez do número um dos momentos mais fortes da estreia carioca do show 'Ubuntu'

Marcelo Castello Branco / Divulgação

As escolhas resultaram extremamente felizes. Um trem para as estrelas, por exemplo, carrega nos versos de Cazuza (1958 – 1990) toda a melancolia trazida por correntezas que evocam navios negreiros. Essa aguçada consciência política é exposta no show após Leila Maria cantar “a fome que humilha a todos”, denunciada na refinada aridez de Seca (Djavan, 1996), número assentado sobre o baticum de Kastrup, Muleka e Zola com a voz de Maria Bethânia reverberando em off, no início e no fim, o texto gravado para o disco lançado em 29 de abril.

A propósito, textos dos escritores Conceição Evaristo e Josué de Castro (1908 – 1973), ouvidos nas vozes de Adriana Lessa e Lucas da Purificação, respectivamente, pontuaram o roteiro, frisando um ativismo também presente no canto, na musicalidade, no repertório e até no elegante figurino criado por Almir França para a cantora se apresentar na cena política do show Ubuntu.

O ativismo do repertório é potencializado pela sonoridade viçosa. Se a salsa Tanta saudade (Chico Buarque e Djavan, 1983) soou com o tempero do afro-jazz latino, Asa (Djavan, 1986) voou no fraseado singular de Leila, cantora que, por ser dona do dom jazzístico, fez o samba Flor de lis (Djavan, 1976) desabrochar em outra cadência e mergulhou em Oceano (Djavan, 1989) com divisão própria sem se perder nas águas românticas dessa balada, uma das músicas mais populares da obra de Djavan.

Aliás, a intérprete abriu no roteiro do show Ubuntu o que caracterizou como “janela jazzística” para dar voz, com o toque livre do pianista Rodrigo Braga, a três standards do gênero musical ao qual é primordialmente associada.

O canto seguro de A night in Tunisia (Dizzy Gillespie, 1942), Night and day (Cole Porter, 1932) e Summertime (George Gerswhin, DuBose Heyward e Ira Gershwin, 1935) – número aplaudido de pé – nessa espécie de interlúdio reforçou o quanto o grandioso álbum Ubuntu é título fora da curva na discografia de Leila Maria.

Ao fim do show, ao som de interpretação de Caxangá no balanço inebriante do afro-jazz, a cantora reforçou o recado político do show feito com voz e suor. E, na briga contra o rei, ficou claro no palco do Teatro Rival Refit que a vencedora foi Leila Maria.

Leila Maria encadeia 17 músicas no roteiro ativista do show 'Ubuntu'

Marcelo Castello Branco / Divulgação

? Eis o roteiro seguido por Leila Maria em 26 de agosto de 2022 na estreia carioca do show Ubuntu no Teatro Rival Refit, na cidade do Rio de Janeiro (RJ):

1. Soweto (Djavan, 1987)

2. Aquele um (Djavan e Aldir Blanc, 1980) /

3. Fato consumado (Djavan, 1975)

4. Milagres do povo (Caetano Veloso, 1985)

5. Zumbi (Jorge Ben Jor, 1974)

6. Oceano (Djavan, 1989)

7. Meu bem querer (Djavan, 1980)

8. Faltando um pedaço (Djavan, 1981)

9. A night in Tunisia (Dizzy Gillespie, 1942)

10. Night and day (Cole Porter, 1932)

11. Summertime (George Gerswhin, DuBose Heyward e Ira Gershwin, 1935)

12. Tanta saudade (Chico Buarque e Djavan, 1983)

13. Asa (Djavan, 1986)

14. Flor de lis (Djavan, 1976)

15. Seca (Djavan, 1996)

16. Um trem para as estrelas (Gilberto Gil e Cazuza, 1987)

17. Caxangá (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1977)

Bis:

18. Soweto (Djavan, 1987)

Fonte: G1

Comunicar erro

Comentários