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'Sempre achamos que sabemos do que o paciente precisa. Até nos tornarmos o paciente', diz médica

Por G1 em 08/11/2022 às 10:45:14
Reabilitação sexual como parte do tratamento oncológico é tema de congresso internacional “Sempre achamos que sabemos do que o paciente precisa. Até nos tornarmos o paciente”, afirmou a epidemiologista Muthoni Mate, pesquisadora-chefe do Centro de Saúde Pública do Quênia, lembrando o diagnóstico de câncer de mama que recebeu em agosto de 2016: “aquilo me quebrou por dentro”. No entanto, em seu segundo ano de remissão da doença, depois de cinco anos de hormonioterapia, a médica se tornou militante de uma abordagem mais ampla no tratamento da doença, como explicou em sua apresentação no 23Âș. Congresso da Sociedade Internacional de Medicina Sexual:

A epidemiologista Muthoni Mate, pesquisadora-chefe do Centro de Saúde Pública do Quênia

Divulgação

“Médicos só falam dos exames e terapias para combater a doença e ainda esperam um comportamento positivo da pessoa o tempo inteiro. E a angústia, o mal-estar com os efeitos colaterais, o desconforto com o próprio corpo, o medo de o câncer voltar? São assuntos sobre os quais pouco se discute. Eu, que nunca tinha tido problemas de autoestima, tirei todos os espelhos de casa, porque não queria me ver sem cabelos, com a roupa pendurada depois de uma mastectomia”.

No Quênia, explicou, a expressão “datktari alisema” define a relação entre médico e paciente. O profissional de saúde, assim como o professor e o chefe de polícia, é uma autoridade que não deve ser contestada e não há espaço para perguntas sobre como retomar a vida sexual. Por isso, sua apresentação tinha o sugestivo título de “Superando o cinto da castidade” (“Overcoming the chastity belt”). A doutora Mate é fundadora do Cancer Café que, além de reuniões mensais de mulheres para compartilhar seus medos e experiências, trabalha para a implantação de cuidados integrativos no combate ao câncer. Na sua avaliação, embora questões como nutrição e exercícios venham sendo endereçadas nos grandes centros, a reabilitação sexual ainda não é valorizada:

“Questões biológicas se somam a psicológicas e de relacionamento. Tudo muda e é preciso experimentar: lubrificantes e hidratantes, diferentes posições, brinquedos eróticos e dilatadores vaginais, já que tratamentos radioterápicos na região pélvica podem provocar encurtamento ou estreitamento do canal vaginal”.

Por fim, mas não menos importante: a fisioterapia pélvica é a especialidade indicada para a reabilitação sexual, que não pode se limitar a instruções verbais, ou à sugestão de utilização de objetos como dilatadores, sem levar em conta as diferenças individuais. De novo bato na mesma tecla: assunto obrigatório no consultório!

Fonte: G1

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