Marília Alencar agiu de forma deliberada para não reunir a Célula de Inteligência de Instituições de Segurança Pública do DF antes da invasão às sedes dos três poderes. Anderson Torres, ex-ministro de Bolsonaro e ex-chefe da segurança no DF, falou à CPI dos Atos Golpistas nesta terça (8)
Ton Molina/Reuters
A PF (Polícia Federal) tem elementos suficientes para concluir que Marília Alencar, braço-direito de Anderson Torres quando ele era secretário de Segurança do Distrito Federal, agiu de forma deliberada para não reunir presencialmente a Célula de Inteligência de Instituições de Segurança Pública (CIISP) nas vésperas do 8 de janeiro.
A CIISP reúne representantes dos órgãos de inteligência das forças de segurança do DF, tais como a Polícia Militar, a Civil, Detran e Corpo de Bombeiros, além de representantes do governo federal, como PF e PRF (Polícia Rodoviária Federal). É praxe haver encontros presenciais mesmo em situações com menor potencial de dano.
De acordo com as informações obtidas pela PF, a CIISP recebeu informações em 7 de janeiro sobre a movimentação de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro em Brasília. Por volta das 22h, eles souberam da chegada de cerca de 43 ônibus fretados com o total de 1.622 passageiros para a manifestação do dia seguinte.
Com esse dado, foi questionado no grupo de WhatsApp quando seria o acionamento presencial da célula. A resposta do representante do DF, aliado de Marília, foi de que a reunião seria apenas virtualmente, ou seja, pelo grupo de mensagens. Integrantes do núcleo estranharam a postura.
Fontes da PF ouvidas pelo blog dizem não terem visto tal postura em 10 anos de atividade policial.
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A PF já tem elementos suficientes para concluir que Marilia Alencar – mesmo em posse de informações de inteligência na véspera – não acionou a célula de inteligência, o que deveria ter sido feito.
O blog tentou contato com a defesa de Marília, mas não teve retorno até a publicação.
Marília Alencar seria ouvida na sessão desta terça-feira (12) na CPMI do 8 de Janeiro, mas não compareceu. Em junho, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Nunes Marques, indicado por Bolsonaro, já tinha autorizado a ausência.
Ao justificar a medida, Nunes Marques disse que "elementos evidenciam a situação de estar a paciente convocada perante a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito na condição de investigada e não como testemunha". Por isso, segundo o ministro, não teria obrigação de ir.