Prefeito do Rio pediu ajuda ao governo federal ao saber que milicianos cobraram taxa para empreiteira realizar obra pública. Mas e o governador Claudio Castro? O crime de milícia não é federal. Presidente Lula (ao centro), ao lado de Eduardo Paes (à dir.) e Claudio Castro (à esq.)PEDRO KIRILOS/ESTADÃO CONTEÚDOO Rio de Janeiro tem um governador, Claudio Castro (PL), um secretário de segurança, Victor Santos, e uma Polícia Civil, comandada pelo delegado Marcus Vinícius Amim Fernandes. Mas, ao saber que milicianos estavam cobrando taxa de R$ 500 mil de uma empreiteira numa obra pública, o prefeito Eduardo Paes foi às redes sociais e pediu socorro ao Secretário Executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Cappelli, e à Polícia Federal. Cappelli respondeu prontamente: "Vamos para cima destes bandidos". E este é um problemaço para o governo Lula. A encrenca da obra no Rio é 100% estadual, 100% de responsabilidade do governador Claudio Castro. É caso de Polícia Civil. O crime de milícia não é federal. A polícia da União só pode entrar em casos de milícia quando há repercussão interestadual e, mesmo assim, com autorização do Ministério da Justiça. Por isso a Polícia Federal está investigando a milícia do Zinho. Uma grande forçação de barra, diga-se de passagem. Uma intervenção disfarçada na segurança. Assim como a investigação do homicídio da vereadora Marielle. Falência e desconfiança das forças estaduais, notadamente da polícia judiciária, a Polícia Civil. Ponto. Mas onde entra o problemaço para o governo Lula? Ninguém sabe ao certo o que fazer com Cappelli. Como dar o bilhete azul a alguém que virou uma referência de autoridade. Cappelli é a solução salvadora para a segurança? Não. Alguém conhece as ideias de Cappelli para Segurança? Não. Cappelli é referência quando o assunto é combate ao crime organizado? Nunca foi. Cappelli é super-herói? Não. A história recente está repleta de autoridades que botaram a capa azul e se atiraram da janela. Então qual o problema de o governo federal dar o bilhete azul a Cappelli, com a saída de Dino do Ministério da Justiça? O secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Ricardo CappelliTomaz Silva/Agência BrasilA questão é que Cappelli virou referência de autoridade. Não se esconde quando há crise. O 8/1 lhe conferiu essa qualidade. Ao tratar com militares, foi uma liderança civil que não mostrou a tradicional reverência lambe-botas, marca dos governos da redemocratização. (Retifico: as exceções do estilo lambe-botas no período pós-ditadura foram os governos Fernando Henrique e Dilma Roussef). É de domínio público que o governo Lula não quer meter as mãos no tema da segurança pública. Inútil. Não é o governo que decide sobre qual tema que vai tratar. A sociedade, cada vez mais, impõe os seus temas. Segurança é um deles. Além do que, pega mal escolher a elucidação de um homicídio como questão de honra, caso Marielle, e fingir que outros tantos casos são responsabilidade apenas de governadores. Dor de mãe não distingue crime político de crime comum.O governo Lula, enfim, conseguiu ter uma cara nas crises de segurança. Alguém que não se esconde. Não é à toa que o prefeito da cidade, vitrine dos problemas de segurança, ignorou o governador e pediu ajuda nominalmente a Cappelli. Não foi à toa. Como diria o jornalista Carlos Andreazza: "tem método". Paes, melhor do que ninguém, sabe da importância de ter alguém com autoridade para chamar nesses momentos. Mesmo que não seja da jurisdição dele. E Paes sabe disso. Mas chama. A encrenca se torna ainda maior porque Ricardo Lewandowski provável substituto de Dino, tem o perfil que Lula busca para o Ministério da Justiça e Segurança Pública. Tem mais credenciais, currículo cabelos brancos e muito mais ligações com o mundo jurídico do que Cappelli. Além de ter menos inimigos (Cappelli tem aos montes). Ninguém imagina Lewandosviski indo às redes sociais escrever: "Vamos para cima destes bandidos".