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STF volta a julgar se vida Ă­ntima de vĂ­timas de crimes sexuais pode ser usada como argumento na Justiça

Ministra é a relator de ação da PGR contra a conduta das autoridades no tratamento de vítimas deste tipo de crime, como o estupro.

Por G1 em 22/05/2024 às 18:37:26
Foto: G1 - Globo

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Ministra é a relator de ação da PGR contra a conduta das autoridades no tratamento de vítimas deste tipo de crime, como o estupro. Para o MP, advogados devem ser proibidos de usar vida íntima das mulheres como argumento para defesa dos réus. O Supremo Tribunal Federal volta a julgar, nesta quarta-feira (22), um pedido da Procuradoria-Geral da República para invalidar a prática de desqualificar e culpar as mulheres vítimas de violência sexual quando ocorre o julgamento destes crimes na Justiça.

A ação da PGR, apresentada em dezembro do ano passado, questiona o tratamento dado pelo sistema de Justiça e o Poder Público às vítimas de crimes sexuais.

O processo tem como relatora a ministra Cármen Lúcia.

Para o Ministério Público, há um viés de gênero no julgamento de crimes deste tipo, o que acaba permitindo que advogados dos acusados dos delitos desenvolvam defesas usando como argumentos detalhes da vida íntima da mulher – como o seu comportamento e escolhas sexuais – sob uma perspectiva moralista.

Além disso, o MP argumenta que ações e omissões das autoridades violam princípios constitucionais como o da dignidade humana, da dignidade e liberdade sexual, da igualdade de gênero e do devido processo legal.

"O intento é obter pronunciamento do Supremo Tribunal Federal que vede expressamente tanto a prática de desqualificação da vítima, em geral promovida pela defesa do acusado do crime, como a consideração ou a ratificação judiciais de alegações nesse sentido, que direcionem o julgamento respectivo para a absolvição do acusado ou, de algum modo, o beneficiem na aplicação da pena", afirmou a PGR.

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A ação pede que o Supremo determine as seguintes medidas:

que personagens do processo – acusados, advogados – sejam proibidos de fazer menção a detalhes de relacionamentos amorosos da vítima.

que os juízes sejam obrigados a combater este comportamento da defesa dos réus – determinando que respondam na Justiça por isso. Se não fizerem, que os magistrados sejam punidos por descumprir seus deveres na condução do processo.

que, ao decidir os casos, os juízes não usem informações sobre a vida íntima da vítima para fixar penas mais brandas aos condenados.

"Incumbe aos poderes públicos da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios garantir às mulheres, com seriedade, espaço seguro e livre de discriminações no processamento e julgamento de crimes contra a dignidade sexual, eliminando barreira adicional à denúncia de criminosos", defende o pedido.

"O discurso de desqualificação da vítima, mediante a análise e a exposição de sua conduta e hábitos de vida, parte da concepção odiosa de que haveria uma vítima modelo de crimes sexuais, como se se pudesse distinguir as mulheres que mereçam ou não a proteção penal pela violência anteriormente sofrida", completou.

O caso começou a ser analisado em março deste ano, com a apresentação de argumentos das partes do processo.

Agora, volta à pauta para a apresentação dos votos dos ministros. A deliberação começa com o voto da relatora, ministra Cármen Lúcia.
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