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Silvero Pereira ressignifica a letra de (grande) canção de Roberto Carlos em monólogo sobre abuso contra crianças

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Por G1 em 09/06/2024 às 21:51:08
? Em determinada cena de Pequeno monstro, espetáculo solo protagonizado por Silvero Pereira na cidade do Rio de Janeiro (RJ), o ator e cantor dá voz à letra de Fera ferida, uma das maiores canções da parceria de Roberto Carlos com Erasmo Carlos (1941 – 2022) na safra irregular dos compositores na década de 1980.

Diante de um microfone alocado ao fundo do palco, Silvero canta alguns versos de Fera ferida e recita outros. Trata-se de ressignificação perfeita da letra da canção de Roberto e Erasmo, pois os versos de Fera ferida se encaixam na narrativa de quem vai embora de determinado lugar, machucado no sentido literal e metafórico, após sofrer violências físicas e emocionais.

Em cartaz no Teatro Poeira de quinta-feira a domingo, em temporada que se estenderá até 28 de julho, Pequeno monstro é potente espetáculo em que a dramaturgia – a cargo do próprio Silvero Pereira, dirigido em cena por Andreia Pires – é calcada em casos reais de garotos abusados e violentados na infância e/adolescência por estarem fora dos padrões de masculinidade determinados pela sociedade homofóbica.

Usando o corpo como instrumento, Silvero se expõe em cena, revelando os xingamentos sofridos na pequena cidade natal de Mombaça (CE), situada no interior do estado do Ceará, o estupro de que foi vítima quando tinha sete anos.

É diante desse quadro de violência e horror que a letra de Fera ferida adquire sentido mais amplo e mais angustiante na voz de Silvero Pereira.

? Eis a letra da canção do Roberto ressignificada por Silvero Pereira no monólogo Pequeno monstro :

Fera ferida

(Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1982)

"Acabei com tudo

Escapei com vida

Tive as roupas e os sonhos

Rasgados na minha saída

Mas saí ferido

Sufocando meu gemido

Fui o alvo perfeito

Muitas vezes no peito atingido

Animal arisco

Domesticado esquece o risco

Me deixei enganar

E até me levar por você

Eu sei quanta tristeza eu tive

Mas mesmo assim se vive

Morrendo aos poucos por amor

Eu sei, o coração perdoa

Mas não esquece à toa

E eu não me esqueci

Eu andei demais

Não olhei pra trás

Era solto em meus passos

Bicho livre, sem rumo, sem laços

Me senti sozinho

Tropeçando em meu caminho

À procura de abrigo

Uma ajuda, um lugar, um amigo

Animal ferido

Por instinto decidido

Os meus rastros desfiz

Tentativa infeliz de esquecer

Eu sei que flores existiram

Mas que não resistiram

A vendavais constantes

Eu sei que as cicatrizes falam

Mas as palavras calam

O que eu não me esqueci

Não vou mudar

Esse caso não tem solução

Sou fera ferida

No corpo, na alma e no coração

Não vou mudar

Esse caso não tem solução

Sou fera ferida

No corpo, na alma e no coração"

Fonte: G1

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