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Álbum de Renato Teixeira com Fagner é mais fiel à natureza e poesia do som do trovador paulista

Por G1 em 31/05/2022 às 12:09:20
Bom nível da inédita safra autoral dos compositores valoriza disco engrandecido pela presença de Almir Sater na bela canção 'Para nosso amor amém' e na regravação de 'Tocando em frente'. Capa do álbum 'Naturezas', de Renato Teixeira e Raimundo Fagner

Ilustração de Elifas Andreato

Resenha de álbum

Título: Naturezas

Artistas: Renato Teixeira e Raimundo Fagner

Edição: Kuarup

Cotação: * * * 1/2

? É sintomática a disposição dos nomes de Raimundo Fagner e Renato Teixeira na capa de Naturezas, álbum que reúne pela primeira vez o artista cearense de 72 anos com o trovador paulista de 77 anos completados em 20 de maio, data estrategicamente escolhida para a chegada do disco nos aplicativos de música.

Está lá grafado, acima da bela ilustração criada por Elifas Andreato (1946 – 2022) para a capa, “Renato Teixeira + Fagner”, como a indicar que Naturezas é álbum de Renato Teixeira com Fagner. Em bom português, a natureza interiorana do som folk do compositor de Romaria (1977) prevalece sobre o nordeste ibérico de Fagner ao longo das dez músicas do disco gravado em novembro de 2021, no estúdio da gravadora Kuarup, na cidade de São Paulo (SP).

É como se Fagner generosamente tivesse se submetido à arte e à poesia de Teixeira, ainda que paradoxalmente sejam dele, Fagner, as melodias das músicas inéditas letradas por Teixeira.

A exceção – dentro dessa safra inédita de bom nível melódico e poético, arranjada por Maurício Novaes com reverência à natureza harmônica e filosófica de disco pautado pela delicadeza – é a canção Eu só quero ser feliz, cuja melodia é do compositor e pianista carioca Antonio Adolfo (anteriormente letrada por Fausto Nilo, a melodia de Adolfo foi enviada por Fagner a Teixeira por engano, gerando então a primeira inusitada parceria do trio).

Nessa balada Eu só quero ser feliz, adornada com cordas e cantada somente por Fagner com a voz mais grave e menos rascante, o artista cearense professa a fé na “lida da vida” e a vontade de continuar provando o “fogo da paixão”.

No mesmo reflexivo tom outonal, Renato Teixeira sola Juro procê, balada de urbanidade atípica em disco que transita sobretudo pelo Brasil interiorano, como na moda contemporânea Arte e poesia – em que Fagner e Renato Teixeira unem vozes para saudar a simplicidade da vida na contramão da agitação da era hi-tech – e no folk-country Eu comigo mesmo.

Faixa lançada em single editado em 18 de março, Eu comigo mesmo tem vocais que evocam ligeiramente a estética do doo-wop em gravação que evidencia também o toque magistral da guitarra de Natan Marques, virtuose da banda arregimentada para o disco e formada, além de Natan, por Cainã Cavalcante (violão), João Cristal (piano), Maguinho Alcântara (bateria), Maurício Novaes (teclados, violão e percussão) e Wilson Levy (contrabaixo).

A guitarra de Natan também sobressai no arranjo de Mucuripe (Raimundo Fagner e Belchior, 1972), cujo registro expõe – já na segunda faixa do disco Naturezas, lançada como single em 29 de abril – o tom mais polido do canto de Fagner, característica que valorizou o disco álbum solo do artista, Serenata (2020).

Almir Sater (à esquerda) marca dupla presença no álbum de Fagner (de boné) e Renato Teixeira

Divulgação / Kuarup

Mucuripe é uma das duas únicas músicas regravadas pelos cantores no álbum, cuja edição física em CD está prevista para junho pela gravadora Kuarup.

A outra, Tocando em frente (Almir Sater e Renato Teixeira, 1990), abre o disco, tendo sido lançada em 17 de dezembro de 2021 como primeiro single do álbum Naturezas. Além da bela trama de violões, a gravação tem valor documental por ser o primeiro registro fonográfico da canção com as vozes dos dois autores, Sater e Teixeira, aos quais se unem Fagner, pela primeira vez interpretando os versos apresentados ao Brasil na voz de Maria Bethânia em 1990.

Almir Sater também aparece como convidado dos anfitriões em Para nosso amor amém, canção curativa entoada pelo trio em feitio de oração em gravação que representa pico de beleza no fluxo sereno do álbum Naturezas.

Sem o mesmo poder de sedução, Linda de mansinho é canção que resvala no romantismo trivial enquanto o bolero Rastros da paixão tenta pegar mais na veia desse cancioneiro sentimental para exaltar o compositor cearense Evaldo Gouveia (1928 – 2020), vizinho de Fagner na casa do artista em Fortaleza (CE). São duas faixas menores dentro do conjunto da obra.

E por falar no estado natal de Fagner, Aqui é Ceará saúda as águas e ventos desse lugar. Deveria ser a faixa com mais cara de Fagner no disco e, de certa forma, é. Mesmo assim, embora a letra cite nominalmente o Ceará, parece que Renato Teixeira, autor dos versos, está falando do Pantanal ou de qualquer outro lugar do interior do Brasil em que o folk positivista do trovador paulista se ambienta com naturalidade.

O que somente reforça a sensação de que Naturezas não é um disco de Renato Teixeira e Fagner, mas, e aí há diferença sutil, um álbum de Renato Teixeira com Fagner.

Renato Teixeira e Fagner (de boné) reúnem dez músicas no álbum 'Naturezas'

Leonardo Rodrigues / Divulgação Kuarup

Fonte: G1

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