Paulo Abrão avalia que, mesmo timidamente, a Lei da Anistia vinha apresentando avanços, como a desativação de estruturas repressivas no governo José Sarney, a criação da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos no governo Fernando Henrique Cardoso e o reforço administrativo da Comissão de Anistia nos governos Lula e Dilma Rousseff. A exceção está na atual gestão de Jair Bolsonaro, segundo Abrão.
“Nós estamos frente ao primeiro governo que rompe esse compromisso da implementação do pacto da transição democrática, interrompendo a vocação reparadora da Comissão de Anistia, trabalhando para o fechamento da Comissão de Mortos e Desaparecidos e suspendendo todas as políticas de memória estatal", lamentou. "Além de inconstitucional, é uma estratégia para a disseminação de uma cultura de valorização da ditadura como modelo político: tenta reconhecer a tortura como prática legítima e tenta naturalizar a violência estatal, estigmatizando os defensores e defensoras de direitos humanos.”
A ex-presidente da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, Eugênia Gonzaga, lembrou que o conteúdo da Lei da Anistia foi negociado com os militares, na década de 1970. Ela reclama da atual descontinuidade das ações e do risco iminente de extinção do colegiado por decreto ou portaria presidencial.
Ameaças
O diretor da Associação Brasileira dos Anistiados Políticos das Estatais (Abraspet), Luciano Campos, citou outras ameaças em curso.
O projeto de lei (PL 259/19) citado é do deputado Márcio Labre (PL-RJ) e está em análise na Comissão de Seguridade Social da Câmara. Na justificativa da proposta, Labre argumenta que “são notórias as notícias de equívocos e excessos em relação a benefícios para anistiados, muitos dos quais acima dos limites definidos pela lei”. Já o deputado Vicentinho (PT-SP) ressaltou a importância da Lei da Anistia.
O seminário sobre os 43 anos da Lei da Anistia foi realizado a partir de requerimento do deputado Leonardo Monteiro (PT-MG). O evento também teve homenagem ao ex-deputado federal Arnaldo Faria de Sá e ao capitão José Wilson da Silva, recentemente falecidos. Wilson foi um dos fundadores da Associação de Defesa e Pró-Anistia dos Atingidos pelos Atos Institucionais e foi assassinado em Porto Alegre, aos 89 anos, no fim do ano passado.