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Gaby Amarantos se eleva sobre as águas amazônicas que banham o batidão tropical do álbum 'Purakê'

Por G1 em 03/09/2021 às 12:47:39
Artista paraense se firma como compositora em disco produzido por Jaloo com 'feats' da cantora com Alcione, Dona Onete, Elza Soares, Liniker, Luedji Luna, Ney Matogrosso e Urias. Capa do álbum 'Purakê', de Gaby Amarantos

Rodolfo Magalhães com arte de Luan Zumbi

Resenha de álbum

Título: Purakê

Artista: Gaby Amarantos

Edição: Amarantos Eleva / Deck

Cotação: * * * *

? Vislumbrado desde 2015, o segundo álbum solo de Gaby Amarantos emerge das águas amazônicas, após seis anos, elevando a cantora, compositora e atriz paraense na cena nacional. Purakê é álbum de afirmação que, sob prisma autoral, se revela até mais importante na discografia da artista do que o aclamado antecessor Treme (2012).

Lançado há nove anos, no embalo da (re)descoberta dos sons do norte pelo Brasil etnocentrista do eixo Rio de Janeiro – São Paulo, Treme exportou o tecnobrega para todo o território nacional, rendeu um megahit para a cantora – Ex mai love (Veloso Dias, 2012), ainda hoje o maior sucesso de Gaby – e passou para a história fonográfica como mais um acerto de Carlos Eduardo Miranda (1962 – 2018), diretor artístico do disco efetivamente gravado com produção musical de Félix Robatto e com a colaboração de Waldo Squash.

Leia entrevista da artista ao G1: Gaby Amarantos quer apresentar o novo som amazônico com segundo álbum

Disponível em edição digital deste a noite de quinta-feira, 2 de setembro, o álbum Purakê evidencia o progresso de Gaby Amarantos como compositora. Se em Treme a artista assinava somente duas músicas (Gemendo e Faz o T), em Purakê Gaby é a autora de todas as 13 músicas do disco, a sós ou com parceiros, sustentando o bom nível da safra autoral ao longo do álbum formatado com produção musical de Jaloo, artista paraense surgido no embalo da onda nortista que se ergueu nos rios do Brasil a partir de Treme.

Munido dessa safra autoral, Gaby Amarantos apresenta álbum tão interessante quanto o anterior, mas diferente, ainda que com naturais conexões. A presença da matriarca musical paraense Dona Onete é uma das interseções entre Treme e Purakê.

A autora e convidada da música Mestiça (2012), no álbum anterior, reaparece ao lado de Alcione e Elza Soares, compondo o trio de deusas-mulheres que se reúne com Gaby em Última lágrima (Gaby Amarantos, Renato Rosas, Dona Onete), canção sobre sofrência que exalta o poder feminino, seja na récita de Dona Onete, seja nos cantos de Alcione, Elza e Gaby. Jaloo divide a produção da emblemática faixa de abertura do álbum Purakê com o mineiro Baka e com Rafael Ramos.

Gaby Amarantos canta o tecnobrega 'Arreda' com Leona Vingativa e Viviane Batidão

Rodolfo Magalhães / Divulgação

Outro ponto de contato entre Treme e Purakê é naturalmente o tecnobrega, gênero musical que adquire aura afropunk em Arreda (Gaby Amarantos, Félix Robatto, Arthur Espíndola), faixa que junta Gaby, Leona Vingativa e Viviane Batidão em gravação produzida por Jaloo com Waldo Squash.

Sem soar tão tecno, o brega também dá o tom da canção Amor fake (Gaby Amarantos, Félix Robatto, Arthur Espíndola e Renato Rosas) e de Selfie (Gaby Amarantos, Arthur Espíndola e Lucas Gouvêa), música que Gaby corretamente associa à voz do cantor Reginaldo Rossi (1944 – 2013), um dos reis do gênero, ao contextualizar o repertório de Purakê.

Álbum mergulhado em águas amazônicas, mas tingindo os sons do norte com os tons da contemporaneidade pop, Purakê vai além do tecnobrega ao reverberar o batidão tropical em músicas ensolaradas como a fluente Embraza (Gaby Amarantos e Jaloo) e como Iniciação (Gaby Amarantos, Jaloo e Lucas Estrela), flash de “uma paraense que resolveu curtir o carnaval na Bahia”, como caracteriza a artista.

Em tom mais denso, mas sem pesar a mão no melodrama, a cantora dá voz às baladas Amor pra recordar (Gaby Amarantos, Jaloo e Tonny Brasil), Sangrando (Gaby Amarantos) e Tchau (Gaby Amarantos, Arthur Espíndola e Lucas Gouvêa), gravadas por Gaby em duetos com Liniker, com Potyguara Bardo (persona drag queen do ator, cantor e compositor potiguar José Aquilino Araújo) e com Jaloo, respectivamente.

Gaby Amarantos e Jaloo, produtor musical do álbum 'Purakê'

Divulgação

Outro dueto acontece em Opará (Gaby Amarantos, Jaloo, Lucas Estrela), música que junta as vozes de Gaby e Luedji Luna, reiterando a força feminina entranhada em Purakê em faixas como Vênus em escorpião (Gaby Amarantos, Jaloo e Lucas Estrela, 2020), brega punk gravado por Gaby com Ney Matogrosso e Urias, previamente lançado em single em novembro do ano passado, como primeira amostra do álbum.

Mesmo ausente do disco, a presença de Fafá de Belém – estrela radiante que propagou sons do norte do Brasil ao surgir em meados da década de 1970 – é sentida quando a dona de Purakê canta Rio (Gaby Amarantos), música banhada pela referência recorrente das águas dos rios nas ruas do Pará.

Faixa produzida por Jaloo com Félix Robatto, a cumbia Rolha (Gaby Amarantos, Arthur Espíndola, Félix Robatto) reafirma o norte como eixo central do álbum Purakê ao incursionar por esse ritmo colombiano tão presente na música miscigenada do Pará.

Produto azeitado resultante da mistura pop tropical que embala o norte do Brasil, o álbum Purakê faz Gaby Amarantos se elevar sobre as águas amazônicas, triturando referências do passado no presente, com olhos abertos para o futuro.

Fonte: G1

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