De ciclos menstruais irregulares a problemas na gravidez, distúrbios servem para identificar o risco de doenças crônicas A médica epidemiologista Zhang Cuilin é uma referência mundial em saúde da mulher. Professora do departamento de ginecologia e obstetrícia da National University of Singapore e fundadora do Global Centre for Asian Women´s Health, a especialista alerta que o período reprodutivo feminino – que vai da primeira menstruação à menopausa – oferece indicadores de fatores de risco que podem comprometer o bem-estar na maturidade e velhice:
Complicações na gravidez, como hipertensão ou diabetes gestacional, estão relacionadas com o surgimento de doenças crônicas
Lisa Runnels para Pixabay
“A saúde da mulher em seu período reprodutivo não é importante apenas naquele momento que ela está vivendo. Os eventos relacionados com o aparelho reprodutor feminino sinalizam que mulheres apresentam fatores de risco. Identificar precocemente os problemas pode fazer toda a diferença no futuro”.
Disponibilizando um volume impressionante de estudos durante palestra on-line a que assisti no começo do mês, a doutora Cuilin afirmou que é preciso aumentar o nível de informação do público feminino desde a puberdade:
“Ciclos menstruais irregulares aumentam o risco para doença cardiovascular, diabetes tipo 2, câncer de mama e morte prematura. O ciclo menstrual funciona como uma espécie de representante do estado geral da saúde”.
Complicações na gravidez, como hipertensão ou diabetes gestacional, também estão associadas ao surgimento de doenças crônicas. Na verdade, o diabetes gestacional multiplica por dez o risco de desenvolver diabetes tipo 2, mas é possível intervir, como explica:
“A gravidez é um grande teste que revela o potencial para o desenvolvimento de doenças crônicas mais tarde, mas mudanças no estilo de vida são intervenções eficazes. Controlar cinco fatores de risco diminui em 90% as chances de enfermidade. São eles: atividade física, alimentação saudável, peso controlado, não fumar e ingerir álcool muito moderadamente”.
No quesito alimentação, enfatizou que trocar a dieta ocidental por uma baseada em plantas (rica em legumes, verduras, frutas, grãos e com pouca carne vermelha) pode aumentar a expectativa de vida em dez anos, se o ajuste for feito cedo, entre os 20 e 40 anos. Esse bônus cai para 8 anos se as mudanças forem feitas aos 60. “A saúde da mulher é peça chave para as famílias, comunidades e a sociedade como um todo. Tem que ser prioridade. Também devemos treinar os profissionais da área e popularizar a ciência para torná-la acessível às pessoas”, complementou.