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'O livro da Belle' é uma tocante jornada sobre o luto

Por G1 em 25/11/2021 às 07:23:31
Carlos Alberto Sardenberg rende uma homenagem à mulher e não se furta a mostrar o doloroso processo de lidar com a perda “O livro da Belle: histórias de mulheres” é, na verdade, a jornada do luto do âncora e comentarista de assuntos econômicos Carlos Alberto Sardenberg. Belle é a psicanalista Cybelle Weinberg, especialista em transtornos alimentares e sua companheira desde 1995, que morreu em 2019, vítima de um agressivo câncer de mama. Hoje, ele vai lançar o livro em São Paulo; na terça-feira, no Rio. Será uma homenagem à mulher, mas também o fecho do longo processo de lidar com a perda. “Eu sabia o que Cybelle estava escrevendo. Ela me mostrou alguns textos, consultou sobre outros, discutiu projetos. Eu a via escrevendo no seu laptop e sempre arquivando num mesmo pendrive. Depois de sua morte, fiquei um bom tempo sem mexer em nada. Quando tive coragem de ler, fiquei encantado. Ela me apareceu inteira. Precisava publicar, por ela e por mim. Foi doloroso, prolongou o luto, mas quando o livro ficou pronto, me baixou uma estranha sensação: tristeza e alegria ao mesmo tempo. É como estou”, me descreve Sardenberg, com quem tive o prazer de conviver entre 2002 e 2016, quando dirigi a rádio CBN.

Cybelle e Sardenberg abraçados

Acervo pessoal

Em 2010, diagnosticada com um câncer de mama com bom prognóstico de cura, fez questão de não desmarcar a festa dos seus 60 anos, que comemorou junto com a mãe, que completava 90: o convite, bem-humorado, fazia alusão a um aniversário de 150 anos! Eu estive lá e fui testemunha da alegria contagiante do ambiente. Belle e Sardenberg compartilhavam prazeres: viagens, boa comida, vinhos e os netos de um e de outro – não tinham filhos juntos – eram mimados por ambos sem distinção. Em 15 de fevereiro de 2017, um novo diagnóstico de câncer de mama, desta vez muito agressivo. Foram 2 anos e oito meses de cirurgias, quimioterapia, radioterapia e grande sofrimento físico. Foi também uma fase de viagens, consultório cheio e o lançamento do livro “Faces do martírio”, baseado em sua tese de doutorado e lançado sete meses antes da sua morte. Belle era assim: ação, movimento, vitalidade.

Com o neto caçula, numa das últimas viagens do casal

Acervo pessoal

Sardenberg reuniu um mosaico: notas esparsas sobre o universo feminino, artigos, relatos sobre a doença que enfrentava e até o projeto para um livro sobre mulheres sem limites, que chamava de “excessivas”. Na primeira parte, “A segunda vida das mulheres” trata do poder da maturidade feminina. Reproduzo um trecho pelo qual me encantei e que se chama “Novas relações”: “Homens mais velhos atraídos por mulheres jovens: capacidade de reprodução delas. Fato novo: jovens atraídos por mulheres mais velhas não pela beleza, mas justamente pela experiência, pela arte da sedução, pela liberdade e risco zero de gravidez. Foi-se o tempo em que só o lobo comia a vovozinha... Mulheres na segunda vida: mais inventivas. Claramente diferentes da outra vida. Homens repetem a fórmula, casando-se novamente com mulheres mais jovens e tendo filhos. A segunda vida é mais intensa que a primeira, especialmente para as mulheres.”

A última parte é “A história de Belle”, escrita por Sardenberg, que começa quando se conheceram: ele havia sido seu professor num cursinho de pré-vestibular. No início de 2019, diante de um quadro de metástases recorrentes, Belle perguntou a seu médico: “seja franco. No meu lugar, o que você faria?”. A resposta não deixava margem para dúvida: “eu fecharia o consultório, ia viajar, curtir as coisas de que você gosta”. Começou a transferir os pacientes para outros colegas e tinha planos de, no fim do ano, se mudar para a casa que tinham em Atibaia. Em setembro, o casal viajou para Paris. Em 14 de outubro, seu corpo perdeu a guerra para o câncer. Sardenberg colocou suas cinzas numa taça de Bordeaux e as espalhou ao pé das árvores que ela havia plantado, nas pedras do orquidário e na base da cascata do condomínio em Atibaia, onde tantas vezes os dois apreciaram o fim da tarde.

Capa de “O livro de Belle”

Reprodução

Fonte: G1

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