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Unicamp nota alta em estupros seguidos por 'apagão' de memória e cria parceria com centro de toxicologia para investigação

Por G1 em 22/12/2021 às 08:23:32
Crimes voltaram à discussão após caso de influencer em Jaguariúna. Vítimas têm perfil de baixo consumo de álcool e drogas, diz médica do Caism, o Hospital da Mulher da Unicamp. Banco de informações será inédito no Brasil. O Caism, em Campinas, é referência nacional nos cuidados com a saúde da mulher

Reprodução/EPTV

Aumentou, nos últimos anos, o número de atendimentos a mulheres vítimas de estupro que relatam, após a violência, terem sofrido apagão de memória durante o crime.

A realidade é registrada no Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (Caism), o Hospital da Mulher da Unicamp, em Campinas (SP), e deu origem a uma parceria com o Centro de Informação e Assistência Toxicológica (Ciatox) para que os casos sejam investigados e um mapeamento inédito de dados seja feito no Brasil.

O debate sobre os casos de mulheres que são dopadas e estupradas voltou à discussão após a influencer e estudante Franciane Andrade, de 23 anos, relatar ter sido sexualmente violentada a partir desta dinâmica no Rodeio de Jaguariúna. Um exame feito por ela constatou substância usada no golpe "boa noite, Cinderela" e a Polícia Civil investiga o caso.

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O Caism avalia que é precoce a divulgação dos números da iniciativa até o momento, já que o levantamento ainda está em andamento. No entanto, a médica da área de atendimento especial do hospital, Arlete Fernandes, adiantou ao g1 uma característica das vítimas que demonstra como a violência ocorre.

"A população de mulheres atendida pelo Caism tem a característica de baixo consumo de álcool e outras drogas durante a situação de violência quando comparamos com o descrito em estudos internacionais, mesmo em adolescentes", explica a médica.

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Arte/g1

Caism e Ciatox: como funciona a parceria?

As vítimas de violência sexual chegam para atendimento na emergência do Caism, que é referência nos cuidados em saúde da mulher no país. A partir desta semana, o hospital vai passar a receber as mulheres via sistema de regulação de vagas.

Aquelas que recebem o diagnóstico do estupro, mas relatam não ter lembranças do ocorrido, são questionadas se desejam fazer a coleta de toxicológicos para avaliação. A realização do exame depende do consentimento delas.

"Temos feito isso [sugestão de exame toxicológico] para termos dados fidedignos a respeito [de casos de mulheres que são dopadas para estupro]", explica Arlete.

Se a vítima aceita fazer o exame e é encaminhada ao Ciatox, a coleta pode ser realizada por meio da urina ou sangue. O toxicologista Rafael Lanaro, que participa da iniciativa no laboratório, alerta que a testagem deve ser feita o mais rápido possível.

"Algumas [substâncias] somem em 24h. O tempo ideal para coleta é 12h após a droga entrar no corpo, isso para todos os tipos usados. Um dia depois, as chances de detecção já caem para 90%; 48h depois, fica entre 70% e 60%. Uma semana depois, essa porcentagem já fica muito sutil, em torno de 30% para menos", explica.

E depois do exame toxicológico?

Arlete ressalta que, além do atendimento dispensado às mulheres na emergência e a coleta de exames toxicológicos, os cuidados das profilaxias devem ser feitos nas primeiras 72 horas após o crime.

"Neste período, fazemos a anticoncepção de emergência e as medicações para prevenir o HIV, hepatite B e as infecções por clamídia e gonococo", explica a médica.

A partir o atendimento inicial, as mulheres são acompanhadas por seis meses com equipe multidisciplinar, incluindo psicólogos e psiquiatras. Esse seguimento é importante para diminuir os agravos para a saúde mental.

"É importante a seguinte mensagem: toda mulher que sofrer violência sexual deve procurar o serviço de saúde o quanto antes, antes de completar as 72h. A efetividade da profilaxia será maior", alerta.

Influencer denunciou estupro em camarote de rodeio em SP

Reprodução

Por que perfilar as vítimas?

"O Brasil é pouco engajado na causa de mulheres que são dopadas e estupradas", diz Lanaro.

A realidade, segundo ele, fica demonstrada através da inexistência de dados sobre as vítimas e as ocorrências. Dessa forma, traçar ações de combate fica mais difícil. A parceria com o Caism busca sanar este gargalo.

"Se você procurar a estatística epidemiológica disso [casos de mulheres dopadas e estupradas] hoje, não tem. Essa é uma falha. Quais são as substâncias usadas? Que perfil as vítimas têm? Nunca antes procuramos essas respostas", finaliza.

Exames de sangue e urina são usados em testes toxicológicos

Patrick Harrison/CancerResearch UK/BBC

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Fonte: G1

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