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O sexo depois do câncer de mama e de próstata

Por G1 em 09/12/2021 às 07:35:40
Especialistas reconhecem que a maioria dos pacientes não recebe o apoio necessário para enfrentar o problema Volto ao World Meeting of the International Society for Sexual Medicine, tema da coluna de terça-feira. O bem-estar dos sobreviventes do câncer vem ganhando cada vez espaço na medicina sexual e a questão foi abordada em diversas palestras. Selecionei duas, relacionadas ao câncer de mama e de próstata, por liderarem as estatísticas. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), a estimativa para cada ano do triênio 2020-2022 é de que ocorram 625 mil novos casos. O de pele não melanoma será o mais frequente, respondendo por 177 mil casos, seguido pelos de mama e próstata – cada um com 66 mil casos.

Sharon Bober, diretora do programa de saúde sexual do Dana-Faber Cancer Institute e professora assistente da Harvard Medical School, afirmou que a boa notícia é que o número de sobreviventes é auspicioso: no câncer de mama, pulou de 74.8% entre 1970 e 1977 para 89.7% das pacientes entre 2007 e 2013. “No entanto, de 50% a 80% das mulheres que tiveram câncer de mama relatam efeitos colaterais negativos para o sexo durante ou depois do tratamento; nos casos de câncer ginecológico, o percentual passa de 75%. O pior é que a maioria não recebe o suporte necessário para enfrentar a situação”, acrescentou.

Sharon Bober, diretora do programa de saúde sexual do Dana-Faber Cancer Institute: de 50% a 80% das mulheres que tiveram câncer de mama relatam efeitos colaterais negativos para o sexo

Dana-Faber Cancer Institute

O cenário envolve sintomas geniturinários típicos da menopausa, como perda de lubrificação, dor e dificuldade para se excitar, levando à diminuição ou suspensão da atividade sexual. “A disfunção sexual provoca ansiedade e depressão. Muitas mulheres perdem a sensação de integridade de seus corpos, o que lhes causa enorme sofrimento psicológico. Se estiverem numa relação estável, esta fica sob estresse; no que diz respeito a novos relacionamentos, o desafio é gigantesco. Diferentemente de outros efeitos colaterais do tratamento contra o câncer, os sintomas sexuais não são resolvidos com o fim do tratamento”, explicou.

Para a doutora, a saída é o que chama de “modelo biopsicossocial de recuperação”, com uma abordagem interdisciplinar. Na parte biológica, por exemplo, o trabalho conjunto de especialistas em ginecologia, urologia, endocrinologia e reabilitação pélvica pode amenizar um quadro alterações hormonais, dor e cansaço. No campo psicológico, é preciso lidar com ansiedade, pensamentos negativos e o sentimento de baixa autoeficácia, enquanto, no campo interpessoal, o medo de retomar a intimidade e a falta de comunicação com o parceiro ou a parceira também demandam a atuação de um grupo de apoio ou terapia.

O médico brasileiro Fernando Nestor Facio Jr., pós-doutorado no Johns Hopkins Hospital e professor do departamento de urologia da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp), abordou o impacto do câncer de próstata em homossexuais, um grupo cujos problemas não recebem a devida atenção: “nos Estados Unidos, os homossexuais representam pelo menos 3% da população masculina. São 5 mil que desenvolvem a doença por ano e há cerca de 50 mil sobreviventes no país. Os registros não coletam rotineiramente a informação da orientação sexual e as questões pertinentes a esta minoria são pouco estudadas e entendidas”.

As dificuldades documentadas são, entre outras, disfunção erétil, falta de libido e dificuldades de ejaculação e orgasmo, além de incontinência pós-prostatectomia – e o próprio sistema de saúde tende a isolar os homossexuais. “O tratamento pode ter efeitos profundos nos relacionamentos e na identidade da pessoa, como sensação de inferioridade, depressão e até pensamentos suicidas”, enumerou o médico. Segundo estudo citado pelo doutor Facio, quase 70% dos pacientes afirmavam que sua vida sexual pós-tratamento ficava entre o razoável e o sofrível; somente 22% tinham ereção suficiente para o sexo anal insertivo; e 33% sofriam de anodispaurenia, que é a percepção de dor durante o sexo anal receptivo. A disfunção erétil também era um motivo alegado para não usar preservativos.

Fonte: G1

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